quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Nasceu com o rabo virado para a lua.

Educar é talvez uma das missões mais difíceis que conheço. Nunca fui de ler livros sobre o assunto, nem mesmo quando engravidei pela primeira vez, e me sentia ainda uma miúda, com um novo ser dentro de mim, com tantas dúvidas e incertezas a crescerem com ele. Ele, este novo ser, que se tornou numa ela, e a quem fui dando o melhor de mim, e foi aprendendo comigo, e com quem fui aprendendo também.
Sei que esta (interminável) missão de educar consegue ainda ser mais complexa, quando se multiplica. Ter dois filhos, é gerir constantemente a personalidade e a maneira de ser de cada um, principalmente, quando apesar de irmãos, conseguem ser tão diferentes um do outro. E esta gestão torna-se diária, constante. Porque as bases sendo iguais, o obrigado(a), o se faz favor, o cumprimento diário, são... bases. O resto, a maneira como se lida com cada um deles, é em tudo tão diferente. Porque o castigo que a um pode dar resultado, ao outro pode ter o efeito contrário. Porque se com um conversas e explicas de uma maneira, ao outro sabes que a conversa e a explicação tem de ser conduzida de outra forma. Porque se há um que é mais sensível e preocupado, há outro que é mais descontraído e absorto. Porque se com um te chateias com uma nota menos boa,  repreendes e até barafustas porque sabes que "espicaçado" se vai esforçar mais para a próxima, com outro perante a nota menos boa, reages de maneira diferente, não te chateias (ou demonstras não te chatear), conversas calmamente, tentas (ou finges) compreender, porque sabes que vai ser uma forma de incentivo.
 
Esta semana, perante a aflição do miúdo que ia ter no dia seguinte falta de material porque eu não tinha assinado duas fichas de avaliação, e ele se tinha esquecido delas na escola, ainda equacionei a hipótese de as ir assinar de manhã, para evitar as faltas, evitar que ele ouvisse o raspanete (mais que justo) da professora, e evitar eu própria, ouvir as queixas da professora acerca da falta de responsabilidade (constante) dele ( porque a mim, apesar de o reconhecer, me custa ouvir ).
Não fui. Ele estava nervoso. Com medo. Inseguro acerca do dia que estava prestes a enfrentar. Achei por bem não ir. Porque sabendo que nesta árdua missão de educar, tantas vezes cometo erros, não quis cometer este deliberadamente. Achei que ele devia arcar com as consequências da sua irresponsabilidade, uma vez que este não foi um caso isolado. Uma vez que todas as semanas há um caderno, um livro, um (ou mais) casacos perdidos pela escola, deixados ao sabor do vento, sem preocupações de maior.
Achei que lhe faria bem enfrentar aquele medo, aquela insegurança, aquele nervoso, para que numa próxima se lembrasse e talvez se tornasse mais responsável.
 
Há no entanto miúdos que nasceram com o rabo virado para a lua. O meu filho foi um deles. Ontem andei o dia todo com o coração apertadinho, porque o imaginei encolhido na sua secretária, enquanto a professora lhe gritava (como ele diz) umas boas verdades. Senti-me mal, por não ter lá ido, assinar as fichas e evitar faze-lo passar por isto, apesar de saber que era o mais correto.
E a primeira coisa que lhe perguntei assim que o vi a correr para mim, com um sorriso rasgado nos lábios, foi  isso.
 
Ai mãe... Nem imaginas a sorte que tive... Hoje houve um teatro sobre os perigos da internet, e  tivemos de faltar a duas aulas para assistir. Imagina lá em que aula é que isso calhou?
 
E pronto. Assunto arrumado. Fichas em casa. Fichas assinadas. Prontinhas para mostrar hoje à professora. Lá se foi o castigo e a lição. Fica para uma próxima. Que palpita-me (palpita-me...), que é capaz de não demorar muito tempo!
 

Sem comentários:

Enviar um comentário