terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Balanço/Prenúncio

O balanço deste natal, é traduzido num quilo e meio a mais, nuns calções novos tamanho XS, oferenda dos meus filhos e que envergo hoje, assim a modos que à justa na zona abdominal, constato agora, que estou sentada há duas horas, e a sentir-me assim a modos, que quase a asfixiar.
O balanço que me ocorre neste momento é este, muita comida, bebida, muitos doces, e uma família reunida à mesa, sempre à mesa.
Amanhã teremos mais uma mesa farta, e uma casa cheia (quando é que eu me lembrei que a passagem de ano seria em minha casa? estaria doente? a alucinar?) de amigos, e comida, e bebida, e muitos doces, e palpita-me que mais um quilo e meio para começar bem o ano (e os calções XS na gaveta, à espera de melhores dietas).
Assim, feito o rápido balanço, e o rápido prenúncio, resta-me desejar um novo ano repleto de mesas fartas, com família e amigos, um bom fígado e um bom metabolismo, pronto a eliminar estas fartas ingestões, e blá blá, essas coisas todas que se desejam por estas alturas de viragem.   

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Reencontros (parte I)

Reencontros.
Foi um fim de semana de reencontros.
E de outras coisas mais.
Tantas, que não sei como um fim de semana tão curto, pode albergar tanto programa, tanta correria, tanto afazer (mas pode, deixou-me foi num estado de exaustão pura).
Foi um fim de semana de emoções, mas sendo que foram todas vividas a correr, porque os afazeres eram muitos, e a agenda estava preenchida milimetricamente, não tive ainda tempo de as assimilar, não tive se quer tempo de as viver convenientemente, de as mastigar, de as digerir,  tão pouco de pensar nelas, e senti-las em pleno.
 
Reencontros. Parte I 

Convidei o pai, o meu, a assistir ao jogo de sábado do miúdo. Senti que a frase "o meu pai" não era usada no meu vocabulário há muito tempo. Tanto, que ao proferir estas palavras, as senti estranhas, mal encaixadas, como não sendo minhas. O miúdo tinha manifestado o desejo de fazer um bom jogo, aos olhos de um avô que não via há três anos, e que poucas vezes viu, ao longo da sua vida. O avô assistiu a quatro golos do miúdo, e a uma exibição exemplar, no seu registo pouco expressivo.
O miúdo terminou o jogo, e cumprimentou o avô com um aperto de mão.
 
Despedimo-nos e combinámos novo reencontro para breve, já que a miúda não pôde estar presente, e não viu o avô. A miúda não perguntou como foi, como correu, nem como estava o avô. O miúdo perguntou apenas se o avô o reconheceu dentro de campo, ou tivemos de lhe explicar que era aquele pequenino com o número sete nas costas.
O avô reclamou em tom de brincadeira que o miúdo era pouco dado a beijos. Defendi o miúdo e tive vontade de lhe dizer que para o miúdo o avô não passa de um estranho, e que isto é fruto da relação que ele próprio plantou com uma semente tardia, raquítica, seca, mal plantada, sem rega, sem chuva, sem adubo, sem substrato. Uma semente que nunca passou de semente, embora saibamos que nunca é tarde para renascer (ou é?), assim a replantemos, e a tratemos com o devido cuidado. Para isto é só preciso querer. Querermos todos. E queremos ?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Castigo

O miúdo está a passar a fase da parvoeira. Já o tinha dito. É que não me canso (ou estou cansada, mesmo) de o constatar.
Anda com a cabeça no ar, não ouve o que se lhe diz (ou finge que não ouve), está constantemente de castigo (aquele que lhe dói mais, as tecnologias todas enfiadas numa gaveta).
O castigo tinha acabado de ser absolvido. O pai diz-lhe que o vai buscar no dia seguinte, ao treino para irem juntos a um jantar de aniversário. Oiço as recomendações do pai, não ir equipado de casa, levar uma roupa, toalha de banho, chinelos, sair do treino a correr, tomar banho, vestir-se em condições, sair rápido, irem para a festa.
No dia seguinte, vou busca-lo à escola, e a mãe do amigo convida-o a irem juntos para casa, que os leva ao treino. Ele pede-me que o deixe. Digo que não. Tem um jantar de aniversário com o pai, não tem mochila para o treino, nem toalha, nem chinelos, nem roupa. A mãe do amigo (minha amiga também), diz não haver problema, tem equipamentos de sobra, arranjam-se umas chuteiras já velhas que caibam naquele pezinho de cinderela, arranja a mochila, com toalha e chinelos e afins. Olho para ele, e digo-lhe, escuta-me com atenção. Repito todo o discurso do pai. Ele diz que sim.
Acabado o treino recebo uma chamada do pai. Espumava pela boca, tenho a certeza. O miúdo tinha ido equipado para o treino, e enfiou toda a roupa dentro de uma mochila tamanho XS. E enfiou tudo, assim à sua maneira, bem enroladinho.  A roupa saiu com aspeto assim a modos que   atropelada por um camião. Pior, esqueceu-se dos ténis em casa do amigo, e das meias. E da toalha. E dos chinelos.
Imaginei a cena. Sem tomar banho. Roupa completamente amarrotada. Chuteiras nos pés. Sem meias. Eu ao telefone com os dois em alta voz, o pai ameaçava uma tareia, ele dizia baixinho "não tenho frio nos pés", eu anunciava novo castigo.
Chegou a casa já depois do jantar (onde se apresentou naquela linda figura), rabinho entre as pernas, pediu para dormir comigo (coisa rara).
No dia seguinte sou acordada com a seguinte frase "mãe, já conversei com o pai acerca disto, agora vou conversar contigo. quando eu fizer alguma coisa de errado, prefiro que me deem logo uma tareia do que me ponham de castigo" .

escusado será dizer que o miúdo não sabe o que é levar uma tareia apenas umas palmadas no rabo, e um puxãozito de orelhas, escusado será dizer que denunciou exatamente o castigo certo a adotar. tecnologias na gaveta, assim será.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O sentido (do meu natal)

O natal está a chegar, e não me cheira a natal.
Perdi o olfacto natalício há três natais atrás, quando o meu rei passou a ex, e decidimos que esta noite seria dele. Sempre. Até entendermos o contrário.
E o meu natal, que até à data em que encontrei outra família, a família do meu rei, tinha apenas sentido no dia de natal em si, passou a ter sentido na noite também. 

Porque até então, a noite de natal não era propriamente vivida em nossa casa, assim como não eram vividas muitas outras coisas. Íamos para a aldeia, jantávamos em frente à lareira, nós e os avós, fazia frio, antes das dez recolhíamos aos quartos. Não havia presentes, a avó dizia "deixa o sapatinho na chaminé, pode ser que o menino Jesus te deixe uma nota". Não me lembro de alguma vez ter deixado o sapatinho, no dia seguinte recebia uma nota das mãos do avô. Depois tínhamos o dia, apenas o dia, com os avós, os tios e os primos paternos. Éramos muitos. E foi há muitos anos. Não me lembro o que comíamos, lembro-me apenas que havia gelatina. Porque me irritava  que a minha tia anunciasse solenemente que havia "treme treme". E eu nem era fã de gelatina, e fazia frio, tanto frio que a gelatina nem tremia. E depois trocávamos presentes,  desembrulhávamos papeis, e nós as miúdas recebíamos panos de loiça, naperons, utensílios para o enxoval. Ainda que estivéssemos a anos luz de um possível casório. E os miúdos recebiam peúgas, cuecas, e talvez outras coisas que não me recordo quais. O melhor dos presentes deixava-o para o fim. Sabia-o. O vindo da tia madrinha, seria o melhor. O primeiro diário com direito a cadeado, com folhas decoradas e cheiro a alfazema. A caixa de música, com a bailarina que não se cansava de rodopiar em cima de uns poucos centímetros quadrados de espelho. Os blocos de folhas coloridas. Mas o melhor, o melhor presente de todos, recebia-o antes do natal. O que não era surpresa, porque escondido em cima de um roupeiro semanas antes do natal, era minuciosamente espreitado, entre o descolar de uma fita cola, ou a transparência de um papel.  O que era oferecido antes de sairmos de casa para a aldeia, a surpresa aniquilada pela minha própria curiosidade. A cozinha de brincar. O ferro de engomar, com direito a tomada eléctrica e tudo, a pantera cor de rosa, o bebé chorão. Um, e apenas um presente, por natal, um de cada um, não mais do que isso, a alegria de os receber.  

Depois os natais na aldeia foram escasseando. O avô paterno adoeceu, perdeu-se o almoço gigante, com direito a enxoval e gelatina treme treme. O avô partiu, e logo em seguida, para outras paragens, ainda que terrenas, partiu o pai. E o natal passou a ser a três. Nós três. As três mulheres da casa. 

Depois conheci o rei. E com ele, o cheiro a noite de natal. A ceia tradicional, os doces tradicionais, a troca de presentes um pouco antes da meia noite. Porque vieram os filhos, e com eles essa alegria, do pai natal que não conseguiu chegar a casa de todos os meninos, mas que ligou e que se despediu com um caloroso ho ho ho, e com a autorização da abertura dos mega presentes. 

E depois perdi esse sentido. Esse cheiro a noite de natal, há três natais atrás. E voltei a ficar com o dia. Apenas o dia, sem os avós de outrora, mas ainda assim com o avô materno, sem os tios, os primos, sem o enxoval e a gelatina treme treme, mas com os filhos, os meus, o sentido de tudo, onde tudo ganha sentido. 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Três

Não estive todos estes dias ausente, embrenhada na leitura. Não. Essa arrumei-a em três dias, meio livro numa noite, um quarto de livro  noutra, e o outro quarto na manhã seguinte, a ânsia de o terminar. Serviu então fim de semana prolongado para descansar? Não. De todo. O sobrinho fez anos, três. O auge da infância, em que tudo o que dizem tem graça, em que é tudo puro, sem malícia, em que as bochechas se tornam ainda um alvo fácil de agarrar e devorar. O sobrinho fez anos, e embora tenha um medo terrível de ouvir cantar os parabéns (vá-se lá saber porquê), comemorar era preciso. E comemorou-se não com um, mas com dois jantares. Assim, a tia ajudou na comezana, e na confecção do bolo (já andava um bocado destreinada da massa de açucar, mas não ficou mal de todo, e acho mesmo que miúdo adorou). Depois destes dois jantares, seguiu-se um jantar de natal. Daqueles em que amigos se reunem, comem e bebem, trocam presentes secretos, comem e bebem, e riem, e comem e bebem. Três noites de grandes jantaradas, portanto. E em todos estes dias, a alvorada foi cedo. Bem cedo. Três manhãs de futebol do miúdo. Não foi uma, nem duas, como inicialmente previsto, foram três. 
Três dias para ler um livro. Três dias de fim de semana. Três anos do miúdo. Três jantares animados. Três jogos de futebol. Três dias para recuperar. Vou no segundo. Amanhã, estarei em forma.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Embrenhada/Absorvida, e outros sinónimos que tais


Estou tão embrenhada na leitura, que não me apetece escrever nem fazer mais nada
Era só para avisar.
 
(obrigada a quem me recomendou emprestou o dito)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Retrospectiva (11)



Olho para trás, para o mês que findou.
Fiz alguns almoços de sábado, para quase uma dezena.
Assisti a sete jogos do miúdo. Algumas derrotas. Algumas vitórias.
Assisti a duas actuações de dança da miúda.
Fiquei orgulhosa dos dois.
Ouvi numa reunião de pais coisas menos simpáticas do miúdo.
Não me orgulhei do que ouvi (embora não fosse nada de grave).
Dei vários sermões ao miúdo.
Consolei a miúda pelas notas menos boas.
Fui a um jantar e a um almoço de aniversário, os dois, do mesmo aniversariante (e senti-me lisonjeada por ser a única amiga repente nos dois eventos - mesmo que tenha sido só pela proximidade geográfica).
Encerrei um capitulo na minha vida, que achei que não tinha "pernas para andar".  
Magoei  (ou fraturei) o coxis, o que me levou ao hospital.
Tomei dezenas de analgésicos, não respeitando o horário a intervalar entre cada um.
Constipei-me e não liguei nenhuma.
Dormi mal durante quinze dias, por causa de um coxis magoado, e de uma tosse incontrolável.
Estive quinze dias sem conseguir conduzir, andando a "reboque" do ex-rei, da amiga e de um colega.
Fui à aldeia, visitar o avô, que em cima dos seus quase noventa anos, ainda anda de mota.
Fui ao cemitério e visitei as campas dos avós que já partiram.
 Interrompi as habituais corridas caminhadas com a vizinha por causa de um coxis magoado.
Cimentei o aprender a gostar de vinho tinto.
Felicitei a miúda, pela melhoria de algumas notas.
Fui ao cinema com os miúdos.
Dormi no cinema, mesmo o filme sendo de ação.
Adormeci no sofá quase todas as noites.
Quase todas as noites fui acordada no sofá pela miúda, que me mandou para a cama.
Retomei as caminhadas com a vizinha por me dizerem que fazia bem a um coxis magoado, e o cão foi atacado por outro cão muito maior.
O cão levou quatro agrafes na barriga, e a toma de analgésicos e afins foi redobrada lá em casa.
Convidei o sobrinho de quase três anos a fazer a árvore de natal connosco.
Voltei a revirar toda a arrecadação para poder retirar todas as caixas com enfeites natalícios, e amaldiçoei toda a tralha acumulada.
Fiz com os filhos e o sobrinho a árvore de "natau" (como diz o sobrinho), e com pouco espirito natalício, deixei alguns dos presépios dentro das caixas, e voltei a coloca-los na arrecadação.
Decorei a casa com apenas quatro presépios dos muitos que tenho.
Decidi fazer uma jarra com azevinho falso, e não ir apanhar verdadeiro ( deixei para dezembro a hipótese de que o espirito natalício  desça sobre a minha pessoa, e  o vá apanhar mais tarde)   


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Por mais estranho que possa parecer

Ontem li sobre um caso de alienação parental em dois dos blogues que acompanho ( aqui e aqui ).
Não sei as razões que levaram a mãe do pequeno Santi, a impedir o pai de ver o filho. Não sei, mas perante tantos casos que ouvimos ou presenciamos, parece-me sempre injusto. Porque os filhos, nunca têm culpa. Nunca. E os adultos por vezes esquecem-se disso, fazem dos filhos armas de arremesso, metidos numa guerra alheia e incompreendida. E os pais sofrem, mas vivem essa luta sem olhar e perceber (?) que os filhos sofrem muito mais.
Eu separei-me há dois anos. E ainda hoje oiço das mais variadas pessoas o quão estranha é a relação com o pai dos meus filhos. Estranha ? pergunto-me. Aos olhos de muitos, provavelmente sim. Aos nossos, nada. E aos dos nossos filhos, tenho a certeza que muito menos. O pai dos meus filhos foi a pessoa com quem escolhi casar, com quem partilhei quinze anos da minha vida. Se erros houve, pouco interessavam no momento em que decidimos colocar o ponto final.  O importante seria minimizar os estragos, perante os dois seres mais importantes das nossas vidas, que culpa não tinham desses erros, e que a sofrer (porque sofrem sempre) que fosse o mínimo que conseguíssemos.
Assim, os filhos ficaram comigo, e não temos nem nunca tivemos um regime de visitas definido. Nem de fins de semana partilhados. São  diversas as vezes que perguntamos um ao outro "este fim de semana é teu ou é meu?", porque nunca sabemos, porque vamos gerindo, porque ele praticamente vê os filhos todos os dias, porque os filhos também  têm voto na matéria e também optam com quem lhes dá mais jeito ficar aos fins de semana  em função da agenda social ou do estudo, porque eu não me importo, porque ele, o pai, não se importa, porque vamos juntos assistir ao futebol do miúdo, porque vamos juntos assistir à dança da miúda, porque se preciso for, e se nos der na real gana, fazemos refeições juntos. Porque a noite de natal por ter sido sempre em casa dos avós paternos, e por saber que era assim que os meus filhos gostariam que continuasse a ser, abdiquei de estar com eles nessa noite, e assim tem sido, e assim será novamente este ano (por muito que me custe), e porque o pai não tem família próxima, e me traz os filhos para passarem o dia comigo, passa também ele o dia connosco e com a minha família. Porque a nossa família se adaptou ao nosso regime, porque os nossos filhos estão bem, apesar de saberem que os pais não estão juntos, que têm vidas separadas (conhecem e convivem inclusive com a namorada do pai), porque nós estamos bem assim, porque entendemos ser o melhor e o mais saudável para todos, principalmente para eles, os filhos, os mais importantes na caminhada da nossa vida, ainda que separada.