terça-feira, 31 de março de 2015

Desabafo

A minha miúda, esta, que está quase da minha altura (embora coitada, sofra por ser baixa, e ainda não ter chegado aos meus míseros cento e sessenta centímetros), esta miúda, que está quase nos dezasseis, está a ficar ligeiramente refilona. É uma refilíce ligeira, bem sei, que nem me devia queixar desta santa adolescência. Mas a juntar à mega refilíce do irmão, ele numa adolescência precoce, que chegou sem aviso prévio, é coisa para me colocar os nervos em franja. 
Pronto. Foi só um desabafo. 

sexta-feira, 27 de março de 2015

Sinceridade/Honestidade

Reunião de notas do segundo período.
Com a miúda, nada de surpresas. Conseguiu o tal "feito escadinha" 12,13,14,15,16,17,18.
O miúdo teve mais um 3, do que o esperado. Para abrir a pestana. 
Tirando o facto do miúdo continuar irrequieto, distraído, e falador, está tudo bem, dizem-me. E sempre com uma resposta pronta, na ponta da língua. Mas educado. Valha-me isso.
Sento-me, e converso com ele. A conversa do costume, que tem de se aplicar mais, blá, blá, pardais ao ninho. E por fim, a conversa sobre o acontecimento, a alemão:

- Então filho, explica-me lá o que se passou na aula de alemão. Ouvi dizer que a professora no dia que entregou os testes, e porque as notas foram tão más, perguntou à turma quem não gostava de alemão, e tu foste o único a pôr o braço no ar...

- Sim. Mas a professora disse para sermos honestos e sinceros. E eu fui único a ser honesto e sincero. Ou tu achas que alguém gosta de alemão? Ninguém! Nós nem tivemos hipótese de escolher outra língua. Fomos obrigados a ter alemão! E aquilo é difícil como tudo!

- Então e depois a professora pergunta quem é que acha que o alemão lhe prejudica a vida, e tu voltas a ser o único a pôr o braço no ar?

- Então, oh mãe, que é que tu achas? Eu tinha acabado de receber o teste! Tive negativa! Desci de um 88%, para um 43%! Comecei logo a pensar que vocês se iam chatear comigo! 

- Sim filho, mas tu não podes dizer que aprender alemão te prejudica a vida...

- Então mas não era para sincero? Eu já estava a pensar no castigo que aí vinha. Vê lá se não tive razão? Prejudicou-me a vida, e de que maneira...   

como é que eu explico ao miúdo que há alturas na vida que mais vale estar calado, e guardar a porra da honestidade e sinceridade só para si?


quinta-feira, 26 de março de 2015

Agradecer, a vida.

Foi há uns anos, em Moçambique, numa viagem de Maputo a Nampula.
Ouvia-se na altura, que os aviões da LAM não eram seguros, que não tinham as revisões obrigatórias, razões pelas quais deixaram de fazer voos para Lisboa. E nesse dia, não íamos na LAM. O voo era de uma outra companhia local, que, imagine-se, tinha apenas dois aviões, e um deles estava já parado por avaria. Nunca pensei muito nestas observações que me faziam. Tinha de lá ir, e positiva, pensava, vai correr tudo bem.

O voo era tipo autocarro, com uma série de escalas. Até ao meu destino final, faríamos duas paragens intermédias. Saíamos de Maputo, parávamos na Beira, depois em Quelimane, e finalmente em Nampula. Depois da paragem em Quelimane, e quando o avião tinha acabado de descolar, ouviu-se um estrondo enorme. Foi tudo muito rápido. Os gritos aflitivos dos passageiros, o cheiro a queimado, a descolagem abortada, as rodas no chão, a travagem abrupta. Não foram minutos, foram segundos. Não tive tempo de pensar em nada, recordo-me apenas de sentir o coração na garganta.
Quando saí do avião e vi o buraco gigante no reactor do avião, provocado por uma águia suicida, pensei nos meus filhos em Lisboa, na minha família, na morte.

A viagem de Quelimane a Nampula acabou por ser feita no mesmo dia, num pequeno avião fretado por uma das pessoas que nos acompanhava. Recordo-me de sermos doze passageiros, com o piloto treze. O avião tinha apenas nove lugares. O piloto olhou para nós, olhou para a quantidade de bagagem e anunciou que não havia lugares para todos, e que a bagagem teria de ser pesada. Recordo-me do burburinho à volta da questão, recordo-me de ter amaldiçoado o meu trabalho que me levava a tão longínquas paragens, e recordo-me do piloto nos ter mandado embarcar. A todos. E a toda a bagagem. Positiva, pensei, vai correr tudo bem.
Dormi a viagem toda.
E correu tudo bem.

Uns dias depois jantei com um comandante da Tap, que ao ouvir o sucedido nos disse que teríamos de ir a Fátima acender uma vela em sinal de agradecimento. Que a pista de Quelimane era a mais pequena do país, e que foi uma sorte o piloto não a ter usado toda para descolar, e não ter de aterrar já no mato mais à frente, onde nos iríamos despenhar, e com a quantidade de combustível que o avião ainda continha para prosseguir viagem, o cenário teria sido aterrorizador (e eu, não estaria aqui, na certa, para contar a história).

O medo de andar de avião, tornou-se relativo. Meti na cabeça que as probabilidades de voltar a ter um incidente aéreo seriam escassas,  embora soubesse que esta minha teoria era também muito relativa. Continuei por isso a viajar, nas mais variadas companhias aéreas (incluindo as moçambicanas), positiva, pensava, vai tudo correr bem, e dormia.

Hoje, de cada vez que vejo mais uma tragédia na aviação, penso que tenho de ir outra vez a Fátima, acender uma vela, e agradecer pela vida.


Fio de ... back

Ao telefone com o contabilista, e já no fim da conversa, ele atira-me com esta:
- Ok Rainha, então quando puder dê-me um fio de back.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Um braço negro

A minha amiga, que vive mesmo por cima de mim, toca-me à porta, entra-me casa dentro, num rompante.
- Anda cá. Tens de ver isto. Estou tão preocupada...
Despe a camisola, e põe-se muito direita, de braços juntos.
- Olha lá. Que é que vês de diferente nos meus braços?
- Hummm.... Tens um braço negro. 
- Tenho, não tenho? Será que vou ter um avc?

Faço o que sempre fazemos, de cada vez que se nos surge uma questão de saúde. Ligo para o nosso doutor de triagem, que é o meu ex-rei, que não é médico nem nada que se pareça, mas que teria dado um, e dos bons, caso se tivesse interessado pelos estudos, em vez de se ter interessado por uma bola, e que tem um jeito danado para estas coisas.
Explico-lhe o sucedido. Faz-me mil perguntas, como se estivesse na linha saúde 24.

Bateu em algum lado? - não.
Está todo negro? - todo. de alto a baixo.
Mas tem aspecto de hematoma - tem. mas um hematoma gigante.
Tem tido problemas de circulação? - que saiba, não.
Tem dores? - não. nada.

Feitas as questões que achou pertinentes, disse-me:
- Não faço ideia do que seja. Ela que vá ao hospital.

A minha amiga vai para casa com o veredicto do meu ex-rei, nosso médico de triagem, e meia hora depois toca-me à porta e entra-me casa dentro, num rompante.
- Tu queres acreditar que estava já eu pronta para sair, e lembrei-me das axilas. Despi a camisola, agarrei numa gilete, e não é que uma gota de água escura me começa a escorrer braço abaixo?

Conclusão, a camisolinha preta que envergava, modelito nova coleção da Primark, tinha-lhe tingido daquela forma um só braço. E foi graças à penugem axilar que se evitaram uns quantos exames no hospital, umas quantas horas perdidas no mesmo, e a vergonha de passar por badalhoca perante o médico de serviço.

Santinho Versus Más Infuências

Era uma vez, numa terra não muito distante, duas amigas, com filhos da mesma idade. Os filhos mais novos, eram os melhores amigos. Eram da mesma turma, frequentavam a casa um do outro, passavam férias juntos. Só que as amigas tinham algumas formas diferentes de ver a educação das suas crias, e por vezes os ânimos exaltavam-se quando cada uma expunha a sua opinião. Um dos meninos era muito sossegado e de parcas palavras, o outro era um espalha brasas e extrovertido do pior. De modo que, de cada vez que a mãe do menino sossegado ouvia queixas dos professores acerca do seu menino sossegado, nunca queria acreditar que assim fosse, porque o seu menino era um santinho. A mãe do menino espalha brasas quando ouvia queixas dos professores, chegava a casa e repreendia o menino. Quando estas situações começaram a ser recorrentes, nitidamente sentiu-se um afastamento. E a mãe do menino espalha brasas, percebeu que a mãe do menino sossegado sentia que havia ali más influências. 
De modo que, de cada vez que o menino más influências convidava o menino santinho para ir a sua casa (vamos chamar-lhes assim), havia sempre uma desculpa para adiar o encontro.

Um dia, tinham um trabalho de grupo para fazer. A mãe do más influencias tenta organizar o encontro para se efectuar o trabalho, e mãe do santinho diz que não há necessidade, que têm muito que estudar durante o fim de semana, e algo se há-de arranjar. Ao fim do dia, mãe do más influências recebe por email o trabalho já feito, para que más influências possa olhar para ele, e apresentar no dia seguinte. Mãe do más influências resolve não se chatear com o assunto, embora olhe para um PowerPoint elaborado, ao nível de um décimo segundo ano, quiçá de uma faculdade, e constata que a elaboração do mesmo foi feito pelo pai do menino santinho.

Semanas depois, novo trabalho de grupo. Mãe do más influências mais uma vez tenta organizar o encontro, e mãe do santinho diz que não vale a pena, que se divide o trabalho ao meio, e cada uma (das mães) faz uma parte. Mãe do más influências exalta-se, diz que não anda na escola e que a parte do más influências será ele a fazer e que um trabalho de grupo tem claramente o intuito de aprenderem a trabalhar em grupo, organizar ideias consensuais, e blá blá. Mãe do santinho não gosta, chateia-se e amarra o burro.

Cada um dos meninos faz metade do trabalho em separado, chegam à escola, juntam as metades numa cartolina, e claramente a bota não bate com a perdigota. 
Mãe do menino santinho de burro amarrado, deve ter feito de propósito, e o filho apresenta uma metade de trabalho desta feita, não ao nível de um décimo segundo, não ao nível de uma faculdade, mas ao nível de um primeiro ciclo.
Professor olha para a obra de arte, e como é seu apanágio, quando tem algo a apontar negativamente a um trabalho, chama o elemento mais fraco do grupo e pede explicações (por elemento mais fraco, entenda-se com pior nota).

Professor : "Menino más influências, chegue-se aqui por favor"
Menino más influências, levanta-se perante o olhar de toda uma turma, e aproxima-se do professor que empunha a cartolina.
Professor: "Ora explique-me lá, menino más influências, como é que temos aqui uma metade de trabalho tão bem feita - aponta para a parte dele - e deste lado uma metade tão, mas tão fraquinha?"

Menino más influências podia ter respondido "olhe professor, porque não tivemos oportunidade de nos juntar, e eu fiz esta metade e o menino santinho fez esta de merda."

Podia. Mas não o fez. Menino más influências olhou o professor, e respondeu:
"Peço desculpa professor. Para a próxima fazemos melhor".

A mãe do menino más influências ouviu isto, constatou que o professor ficou a ideia de que a parte má do trabalho teria sido o menino espalha brasas más influências a fazer, perguntou ao filho o que ele achava, o filho respondeu "claro que sim, que ele acha que fui eu que fiz aquilo, mas querias o quê? que eu fosse dizer que fizemos em separado, e que eu tinha feito a parte melhor? isso seria muito mau para o meu amigo, e ele é o meu melhor amigo".
Mãe do menino más influências sente orgulho no filho, embora sinta a injustiça (mas de injustiças está o mundo cheio), quanto à mãe do menino santinho não se sabe o que terá concluído daqui (nem se soube o final da história) porque amarrou o burro até aos dias que correm...
FIM



terça-feira, 24 de março de 2015

Todos de castigo

Embora ainda não tenham saído as notas do segundo período, os miúdos já sabem o resultado final. 
A miúda, conseguiu alcançar um feito, tipo escadinha. Vai ter 12, 13, 14, 15, 16, 17, e  18 a educação física (que infelizmente - no caso dela - não conta para a  média ).

O miúdo vai ter um único 5 (  educação física, claro...), uns quantos 4, e três 3.
Chatearam-me os 3. Porque sei que com esforço e dedicação seria aluno de tudo 5. Porque sei que com algum esforço e dedicação seria aluno de tudo 4. E porque sei que os 3 que vão aparecer na pauta, foram o resultado de nenhum esforço, nenhuma dedicação. E isso, chateia-me. Para além de que, se no primeiro teste de alemão teve 88%, no segundo trouxe-me a primeira negativa do ano (43%), porque "já sabia tudo, aquilo é básico, não preciso estudar".

Vai daí, eu e o ex-rei, decidimos  ter uma conversa com o miúdo e implementar o castigo. Durante as férias, pode usufruir de duas horas diárias do telemóvel, playsation e ipad. Ele escolhe o horário, e até pode reparti-lo. Mas não mais de duas  horas de tecnologias. E vai ter de ler um livro, estudar matemática e alemão. Está liberto do estudo aos fins de semana.

Após esta conversa, que decorreu à hora de almoço de domingo, e sendo que o castigo entrou em vigor a partir desse momento, o miúdo pegou numa bola. Dez minutos depois, olhei para o ex-rei e confessei "não sei se vou ter força suficiente para levar o castigo à risca". Ele riu-se, perante o barulho ensurdecedor da bola a bater na parede. Meia hora depois, olhei para o tempo. Ameaçava chover, e estava um frio do caraças. Mandá-lo para a rua pontapear a bola estava fora de questão. E arrisquei:
- então filho? não queres gastar as duas horas agora?
- não. vou guardá-las mais para o fim do dia. 

E assim se castigou uma família inteira por três notas medianas. Para a próxima, acrescento a bola às tecnologias. 

segunda-feira, 23 de março de 2015

Celebração




O miúdo fez durante dias, semanas, talvez meses, uma pesquisa exaustiva. 
Eu via-o, de volta desta pesquisa, sem perceber ainda o verdadeiro significado.
Depois da pesquisa,  e após ter seleccionado aqueles que achou mais interessantes, começou a treinar em casa. E foi quando o vi, a esbracejar para trás e para frente, a saltar de uma maneira e doutra, ou mesmo a atirar-se de joelhos no chão, que percebi. O miúdo tinha pesquisado várias celebrações de golos dos seus jogadores de eleição, e estava a escolher a forma de ele próprio celebrar um golo.
Mas não seria num qualquer. Tinha de ser um golo especial.

Este fim de semana, foi o dia.
O miúdo marcou um golo (um senhor golaço - sem falsas modéstias) e celebrou.

-mãe, tu viste o meu golo?
-vi. claro que vi. foi um bom golo.
-e viste a minha celebração?
-vi. foi gira.
-foi gira? aquilo foi mesmo à pró. Foi mesmo uma grande prózada. É a do Neymar. Queres ver?

Saca do telemóvel, e mostra-me. Vejo que foi uma cópia exacta, tirando a parte em que o Neymar após celebrar o golo, ainda dá uns passos de dança. Percebo que a pesquisa exaustiva, quiçá ao nível de uma tese, foi posta em prática de forma exemplar.

-mãe, tu sabes que quando eles celebram com um beijo aqui (dá um beijo no dedo anelar), é porque estão a dedicar o golo à sua noiva?
- noiva, ou mulher, ou namorada...sim, sei. porquê? tu não sabias?
-não. só descobri há pouco tempo...

Ainda bem que descobriu a tempo. Celebrar com um beijo no anelar  a achar que era uma grande prózada, seria vergonha para o traumatizar para o resto da vida.




sexta-feira, 20 de março de 2015

Do Eclipse...

Não vi.
Disseram-me que era melhor não olhar, que aquilo era coisa para afectar os olhinhos, e eu, bem mandada que sou, não olhei.



E enquanto foi dia do pai, para mim foi dia de tia

O Sobrinho ouviu dizer que a tia (euzinha) lhe tinha comprado uma revista do Panda.
Vai daí, pediu aos pais durante dias  para ir para casa da tia (euzinha).
A tia (euzinha), oferece-se para tirar o dia, e tomar conta do sobrinho.
O sobrinho chega, ainda o dia não clareara como deve ser, e a tia (euzinha) dá-lhe a revista do Panda.
O sobrinho olha a revista com um certo desânimo e articula no seu portunhol "já li cum mãe, e cum pai".
A tia (euzinha) não se dá por vencida, o que não deve faltar é merchandising do animal do canal quarenta (já nem me lembrava do que era ter a televisão em altos berros todo o santo dia no canal panda, bonecada a falar, intercalado com o raio dos parabéns, que isto dizem que a natalidade está em crise, mas o que não falta aí é miudagem a fazer anos), e diz ao sobrinho que vamos já tratar do assunto, e comprar uma nova revista.

Saímos para levar os miúdos à escola. Entra no carro, senta na cadeira, põe cinto.
Deixamos os miúdos na escola e vamos tomar o pequeno almoço. Tira o cinto, sai da cadeira, sai do carro. Caminhamos em passo caracol, o passo à medida das suas pernitas.
Voltamos a entrar no carro, senta na cadeira, põe cinto.
Vamos comprar a revista. Outra vez a cadeira, o cinto, bolas, que já não me lembrava disto.
Chegamos a casa. Olho para ele. Está com uma gadelha de todo o tamanho. Uma franja capaz de o pôr estrábico em três tempos (devo estar a ficar velha, já pareço a minha mãe). Arrisco uma rebocada da minha irmã, e o ódio silencioso do meu cunhado (não terá coragem de me desancar, caso não goste do corte). Decido, saímos de casa. Entra no carro, senta na cadeira, põe cinto. Chegamos ao cabeleireiro. Tira o cinto, sai da cadeira, sai do carro.
O miúdo porta-se lindamente enquanto eu vejo as tesouradas e temo uma descasca eminente da minha irmã com pêlo na venta, quando vir o filho sem pêlo na tóla.


Para o choque não ser grande, envio fotos à irmã e ao cunhado do novo look, via mensagem. Assim, terão tempo de mastigar a questão. Voltamos a casa, e ando constantemente atrás dele e a ver onde está. Pergunto-me como fazia quando os meus eram assim, pequeninos. E eram dois.

Quando dou conta, o sobrinho tem a boca cheia de chocolate. Pergunto-me onde foi buscar o raio do kinder, e vejo-lhe a mochila aberta. Ligo para a minha irmã. "o miúdo acabou de comer um chocolate". A minha irmã informa-me que já passou uma hora da hora habitual do seu almoço. Estava com fome.
Desenrascado, o miúdo. Está almoçado, pensei.
E estava mesmo. O almoço, mandou-mo comer a mim.

Vamos aos baloiços. Cheira-me a cocó.
Cocó? - penso. Bolas, esqueci-me da mochila das fraldas.
Falso alarme. Ufa, foi só um pum.
O dia chegou ao fim. Constatei mais uma vez que este sobrinho é um santo. Nem uma birra, nem uma queixa, sempre bem disposto embora de uma antipatia extrema com estranhos (quem os manda  tentar fazer gracinhas? "ah, cutchi cutchi, tão lindo...olá! cu-cu!")
E sendo o sobrinho tão fácil de aturar, pergunto-me como sobrevivi à maratona do veste casaco, despe casaco, senta nas cadeiras, aperta cintos, pega ao colo (e quantas vezes peguei nos dois em simultâneo, um em cada anca) a juntar aos atritos e brigas que  tinham um com o outro, e aos gritos, e ao choro, e a tudo, tudo, o que já passou, e de que até me esqueci...

A vantagem daquele tempo, é que a avaliar as dores nos braços de que padeço hoje, naquela altura não havia cá preocupações com o músculo do adeus. Velhos tempos que já lá vão...

Nota: O corte de cabelo não suscitou grande drama parental. Ou pelo menos não ouvi queixas. Já o meu miúdo, olhou para o novo look do primo e reclamou comigo : "então tu foste cortar o cabelo ao primo, e deixaste-o ficar com este corte ? atão os tios ainda não se aperceberam que o miúdo vai ser gozado para o resto da vida na escola se continuar com este cabelo, e tu não fizeste nada por isto? devias ter rapado ligeiramente dos lados, e deixavas uma poupa em cima! "








quinta-feira, 19 de março de 2015

E porque hoje é dia do pai # II




E porque hoje é dia do pai

O meu ex-rei liga-me e diz "hoje é dia do pai, vou agora ao colégio dar um beijinho aos miúdos".
Meia hora depois liga-me às gargalhadas:

"Queres-te rir um bocadinho? Cheguei aqui e disse ao miúdo: vim cá dar-te um beijinho, sabes que dia é hoje? - e ele olha para mim e responde-me:

-Naaaa... Não me apanhas nessa...Não fazes anos, que os teus anos são em outubro...

E eu começo-me a rir e digo-lhe que vou ligar à mãe para ela se rir um bocadinho, e ele às gargalhadas diz:

- O quê ? Não me digas que a mãe te ligou a pensar que fazias anos hoje!!!"

E depois da gaffe, ainda teve a distinta lata: "ah, é dia do pai? então leva-me ao macdonald's! está-me mesmo a apetecer. é que aposto que o que trago aqui na lancheira é o resto do caril do jantar..."








quarta-feira, 18 de março de 2015

Rascunhos

Enquanto tentava organizar o emaranhado de papéis que jaziam sobre a secretária do meu miúdo, encontrei três rascunhos de um texto pedido para a disciplina de escrita criativa.

O primeiro rezava assim:
"Era uma vez uma criança que era muito triste pois tinha um grande sonho que os pais não aceitavam, e que era ser jogador de futebol" 
E ficou por aqui, julgo eu, por ter equacionado a gravidade do discurso em si. É que nitidamente a história não é ficção, e ainda a professora nos acusava de estar a castrar os sonhos ao miúdo, e quiçá nos batia a segurança social à porta e nos arrancava o filho. E depois ainda nos teríamos de debater em nossa defesa, e angariar testemunhas abonatórias   que pudessem atestar que vamos levar e buscar o miúdo a todos os treinos, assim como as manhãs de sábado e domingo são passadas a assistir aos seus jogos. E que apenas o tentamos alertar para a importância da escola e do estudo.

O segundo rascunho:
"Era uma vez uma criança, que tinha o sonho de ser jogador de futebol, mas ele era muito pequenino para a sua idade, todos eram altos e espadaúdos , mas ele era muito pequeno e com muitos ossos " Temo novamente a segurança social. O Rapaz está traumatizado.  Nitidamente a minha voz a ecoar no seu subconsciente : "tens de comer tudo que és só pele e osso! e depois queixas-te que não cresces! qualquer dia vais-me parar a uma cama de um hospital, subnutrido"

O terceiro rascunho:
"Era uma vez uma criança muito forte e muito alta (sorrio e penso "aqui, já deu o pulo"), que tinha um grande sonho que era ser como o seu pai, ou melhor ainda. Queria mesmo ser um grande jogador de futebol. Tinha doze anos e já tinha um grande jeito para jogar. Mas para além do futebol, tinha tempo para estudar (WHAT?), para a família (hummm...) e para o amor (WHAT THE FUCK?). Era uma criança muito responsável com a escola (sinto-me a ventilar), muito simpática com a família (ataque de asma eminente ) mas desta vez estava muito triste, pois tinha sido convidado para jogar e estudar nos Estados Unidos com uma bolsa de estudo, mas não sabia o que fazer pois a sua namorada estava em Lisboa (sinto-me a ter uma síncope).


terça-feira, 17 de março de 2015

Um bem haja à Uva Passa e à magistrada aqui do lado

Aqui por bandas deste reino, já está tudo lavadinho e cheiroso.
Contadores de água novinhos em folha, situação reposta ao final do dia ontem. A parte burocrática segue à posteriori. Cada morador terá de fazer uma queixa individual na policia ("então Senhora Rainha? o que lhe roubaram?" o contador da água, senhor agente. o contador da água...) para que o custo do dito possa ser imputado à seguradora, que aquilo ainda é coisa para custar alguns mil réis.

Já a situação estava resolvida , encontrei na rua uma vizinha. 
- ai que isto hoje foi uma tragédia. Fui para o tribunal toda mal lavada"  - mal lavada? , pensei, esta tinha dodots, na certa...
- isto foi o gangue do cobre. não sei se sabe, mas eu sou magistrada, e tenho lá muitos casos destes... - Sim, magistrada, eu sei, porque de cada vez que me encontra, faz questão de me enfiar a magistratura pelos olhos adentro, mesmo que só troquemos dois dedos de conversa de circunstância. 

À conta disto tudo, e à conta da conversa com a minha amiga Uva Passa, fui sonhar a noite toda, que estava eu, ela - a Uva - e a vizinha magistrada, na piscina. E elas faziam piscinas, graciosamente, para a frente e para trás, ora bruços, ora mariposa, enquanto eu nadava à cão, só até meio da piscina, que é até onde tenho pé, que eu para fora de pé, tenho a sensação que me afogo. E elas riam, e gozavam comigo, e faziam piscinas quais sereias, agora de costas, a seguir crawl, e falavam de audiências, e tribunais e gozavam o meu estilo à cão, enquanto eu, de orgulho ferido me aventurava cada vez mais para fora de pé. Acordei suada, e com uma crise de asma, no momento em que me afogava, e já acordada, ainda conseguia ouvir as gargalhadas estridentes das duas.

E é graças a elas - à senhora juiza, magistrada, e à minha cara amiga Uva Passa - que envergo hoje umas olheiras até ao pescoço. Obrigadinhas, tá? Um bem haja.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Raios partam os gatunos que nos roubaram a água.

Domingo à noite fazemos os três a nossa sessão de cinema. Depois da discórdia habitual em relação à escolha do filme, lá chegamos a consenso, dividimos sofá, mantas, e conforme a disponibilidade na despensa, chocolates, pipocas ou batatas fritas. Ontem só havia chocolate. Uma tablete tamanho XL, chocolate de leite com amêndoas. A meio do filme, e a meio do chocolate, já eu, que sou um cu de sono, fazia um esforço atroz para manter as pestanas abertas, discutíamos quem se levantava para ir buscar água. Ninguém foi preguiçosos na quinta casa . Adormeci muito antes de ver o fim da história, e foi a miúda quem me acordou "mãe, não há água". Não há água, como? pergunto, já com aquele meu humor de quem acabou de acordar. "não há água na torneira". Que raios, penso, meio adormecida, e a cambalear em direcção à cozinha, com a boca pastosa de tanto chocolate. Não me lembro de ter recebido nenhum email do condomínio a avisar um corte no abastecimento de água. Normalmente fazem-no durante a noite, para limpeza de reservatório, avisam, mas fazem-no a horas tardias, em que a maioria do pessoal já repousa, e pela manhã a coisa está restabelecida. Não dou grande importância, fazemos cada um o seu chichi nas três sanitas de que dispomos, e arrumamos as cabeças cada um na sua almofada sem pensar  na falta de higiene oral e nas caries que daí pudessem advir.

O meu despertador é o primeiro a tocar. Lembro-me da falta de água. Abro uma torneira. Nada. Nem uma gota. Faço o chichi matinal, em cima do nocturno. Pego no telemóvel, e ligo para a minha amiga que vive no andar de cima. Olha lá, tu tens água? "tenho", responde-me ela. Por instantes penso, foda-se, esqueci-me de pagar uma conta e cortaram-me a água. mas a um domingo a meio da noite? "não, não tenho água... assustei-te, hein?", diz-me numa gargalhada. Admiro este sentido de humor matinal. Acordo os miúdos a praguejar, "vamos a acordar e a despachar que não há água!" Fazem o chichi matinal em cima do chichi nocturno.
Procuro nos armários das casas de banho uma embalagem de dodots. Não encontro, e lembro-me que o sobrinho esteve cá, e gastei a ultima a limpar-lhe um cocó mal cheiroso e potente, que lhe chegava às costas. Praguejo novamente, nem uma toalhita para o pipi.Lembro-me do elixir dentário, e ordeno aos miúdos que lavem a caramalheira com o dito. Já vestida, olho-me ao espelho. Foda-se. Aos fins de semana tenho a inteligência de não secar o cabelo, enfiar-lhe um mão cheia de espuma, e pavonear uns caracóis em estilo wild. Ou seja, nem uma escova me atrevo a usar, sob pena de sair de casa em modo juba de leão. Passo os dedos no cabelo, ajeito o enjeitável e maquilho-me, que, oh faneca, sair de casa sem uma camada de base e olhos pintados, é que eu não saio. Que se foda o banho, o sovaco camuflado a desodorizante,  o pipi mal cheiroso e o cabelo desgrenhado. Aqui vou eu, olhos pintados a preceito, dose reforçada de perfume, colar ao pescoço, pronta a enfrentar mais um dia.   

Estamos prontos a sair, e uma vizinha toca à porta. "roubaram-nos os contadores da água". Não solto um foda-se, porque eu nunca verbalizo uma foda de uma asneira, mas penso: "foda-se! roubaram-nos os contadores da água? foda-se, cum caneco!", e solto "bolas! não me diga! roubaram-nos os contadores da água?"
Saio de casa com os miúdos, o intestino a dar horas (que o meu é um relógio, e desperta logo pela manhã, o que é uma maravilha, que a barriga fica lisa como convém), e penso "foda-se, filhos da puta dos gatunos".
Volto a casa, preciso de obrar cagar , e preciso de me inteirar sobre o sucedido, e de como resolver o problema. 
O problema sanitário resolvo com uns baldes de água que fui surripiar à piscina.
A reposição dos contadores, está a ser amplamente discutida entre alguns moradores (muitos seguiram para os seus empregos, sem banho e sem conhecimento de que foram alvo de furto). Entre a direcção do condomínio aqui do sítio que lava as suas mãozinhas porque os contadores são propriedade dos moradores. Entre a empresa de segurança que lava as suas mãozinhas porque não podem estar em todas as ruas ao mesmo tempo. Entre a empresa de condomínio do prédio que lava as suas mãozinhas porque não têm culpa nenhuma. Entre o smas que ainda não nos informou convenientemente dos passos a seguir, apenas que necessitam de um auto da polícia, que já veio, e já tomou conta da ocorrência, e que já lavou daqui as suas mãozinhas. Nós os moradores, continuamos de mãozinhas por lavar, mas temos de pôr mãozinhas à obra se queremos ter água ainda hoje. O smas está a esfregar as mãozinhas pela quantidade de contadores que vão vender de uma vezada só, e os gatunos esses filhos da puta  devem ter as mãozinhas feitas num oito, que aquilo ainda é coisa para lhes ter dado algum trabalho.   


sexta-feira, 13 de março de 2015

Coniventes

Os miúdos em língua portuguesa são obrigados a ler dois livros por período. E a entregar duas fichas de leitura dos respectivos livros. O meu miúdo só leu um livro. Faltava-lhe uma ficha, portanto. O prazo acabava hoje. O rabinho apertado perante o raspanete da professora, assim como a penalização na nota. Eu vocifero umas quantas ameaças que isto não pode continuar assim, e que a responsabilidade dele é pouca ou nenhuma. Ele agarra numa ficha de leitura em branco e diz-me: "vou lá acima ter com a J. Ela também está a fazer uma ficha de leitura, e vou copiar pela dela. É só escrever por palavras minhas, e faz de conta que lemos o mesmo livro". Eu, que ladro mas mordo pouco, não respondo (e sou conivente). 

A mãe da J., minha amiga, desce para me fazer as queixas. Que tinha estado a ajudar, que isto assim não pode ser, que a responsabilidade deles é pouca ou nenhuma, porque se apercebeu que a filha também não tinha lido nem metade do livro, e que tinha sido ela a ditar a cada um, o resumo da história, mas que para além do resumo, a ficha exige que descrevam a parte de que mais e menos gostaram, assim como cinco palavras difíceis que não soubessem o significado. E que foi ela quem escolheu as cinco palavras da filha, e que foi já com dificuldade que desencantou outras cinco, para o meu miúdo. E quando lhe disse "vá, escreve lá as cinco palavras", ele respondeu já de folhas na mão, pronto para vir para casa:
"não é preciso. já estou despachado." e em voz alta, leu-lhe:
" -o livro tem uma leitura tão acessível, que não encontrei dificuldade em nenhuma palavra.
-o livro é tão bonito, e tem uma história tão interessante, que não consigo descrever uma parte que não tenha gostado.
-a parte do livro de que mais gostei, foi de quando o gato ensinou a gaivota a voar" 



e de uma assentada só, duas mães coniventes com a aldrabice dos filhos. e depois queixam-se.  

quinta-feira, 12 de março de 2015

Precoce

O miúdo tinha hoje teste de português.
"não sei estudar português. nunca soube. vou lá para cima estudar com a J."
Subiu as escadas, e foi estudar com a amiga/colega, que vive no mesmo prédio.

Entretanto, a mãe da amiga/colega, minha amiga, desce para beber café comigo.
"já tive de dar um grito aos miúdos. estavam só na galhofa. olhei para o teu filho, e estava ele a escrever num braço. dei-lhe um grito e disse-lhe : tu importas-te de estudar? resposta dele :
-eu estou a estudar... podes mesmo ter a certeza de que eu estou a estudar..."

não aprofundei com ele a questão. olhos que não vêm, cumplicidade que não se sente. se for apanhado, desconheço por completo esta manha de aos doze anos já se cabular. bolas que estes miúdos são muito precoces.


Pedalar não é a minha praia

Querida Gaja Maria, a propósito desta nossa troca de galhardetes/confissões, aqui vai mais um segredo. Mas shiuuu, não contes a ninguém...

Eu não sei andar de bicicleta...

Ou pelo menos, e se isto salvaguarda um pouco a minha já diminuída reputação nas artes desportistas, eu ACHO que não sei. Corria a década de oitenta (anos dourados que já lá vão), e passava eu férias no monte dos meus avós, quando me aventurei em cima de uma bicicleta. Nunca tinha pensado em pedalar, eu era mais correr, e leve que nem uma pena, ainda que com asma, mas ainda sem vestígios de nicotina, corria que nem uma gazela. Mas o meu primo tinha acabado de receber uma bicicleta novinha em folha, último grito da moda, e mesmo gazela na corrida, era difícil acompanhar a pedalada dele. Foi então que anunciei aos meus avós que uma bicicleta talvez me desse um certo jeito. Trataram do assunto no próprio dia, que isto avós que são avós, fazem as vontades todas aos netos. Segui o meu avô até ao celeiro, e eis que vislumbrei aquela que seria a minha primeira e única bicicleta. Um exemplar de mil novecentos e troca e passo, outrora pertencente a uma prima, que era só uma dúzia de anos mais velha do que eu. Não me importei com as teias de aranha com que estava sobejamente decorada, nem com os vestígios de ferrugem circundantes. Montei-me em cima da dita, e sem ajuda alheia, comecei a pedalar. Pedalei o dia inteiro. Estrada abaixo, estrada acima, no momento de curvar toca a pôr os pés no chão, que não se podia pedir mais para um primeiro dia (nem uma queda, nem um joelho esfolado).

No segundo dia, e assim que o galo cantou, saltei da cama entusiasmada com o novo velho brinquedo. E aí, é que a porca torceu o rabo. Não aguentava as dores nas "partes baixas" vulgo pipi, perdi um dia de férias de correria e aventura, voltei a colocar a bicicleta no lugar de origem, e decidi fazer o resto das férias a correr que nem gazela. Foi assim,  no cimo dos meus doze ou treze anos que concluí "pedalar não é para mim". 


quarta-feira, 11 de março de 2015

Digno de registo

Já tentei por diversas vezes juntar-me a esse grande número de fãs do ginásio. Inscrevi-me, perto do escritório, num desses grandes famosos e caros, no tempo das vacas gordas , ia à hora de almoço, PT contratada tempo das vacas gordas, mesmo!, fazia a aula a correr, tomava duche a correr, mil cuidados para não apanhar humidade no cabelo apanhava sempre, e saía a correr, cabelo a modos que desgrenhado, maquilhagem a modos que esborratada, enfiava a correr uma sandes no bucho , e voltava ao trabalho, com os músculos amassados e doridos. Foi sol de pouca dura. Paguei os restantes meses de fidelização sem pôr lá os pés e dei o assunto por arrumado.

Cometi o mesmo erro por diversas vezes em anos posteriores. Experimentei pilates. Experimentei aulas sincronizadas, mas descoordenada por natureza, (todo um grupo a dar dois passos à esquerda, eu a dar dois passos à direita) dei-me por vencida e em época de vacas magras  optei pelas caminhadas. Viver no campo, ainda que quase colada à metrópole, tem esta vantagem. Poder exercitar (vivo na ilusão que caminhar é exercício) enquanto inspiro ar puro (depois de ter entupido os pulmões em nicotina, e de ter respirado toda a poluição dessa grande avenida da liberdade), oiço passarinhos, e vejo a bicharada.


(não percebi se era puro acto de amor, o sapo a carregar a sapa, ou se era puro acto de copulação. qualquer um dos dois, achei digno de registo)

terça-feira, 10 de março de 2015

Porra!

A porra do autoclismo está avariado há mais de seis meses.
E é daqueles que estão enfiados na porra da parede.
Andei dias a tentar descobrir a porra da torneira de segurança.
"a falta que faz a porra de um homem, numa casa"
Chamei o homem da minha irmã. Percebemos a única maneira de neutralizar litradas de água pela porra da sanita abaixo. 
E nestes últimos seis meses, abre-se e fecha-se a torneira da porra do autoclismo, conforme a necessidade, com uma chave de fendas tamanho XL.
E hoje de manhã, ainda meio a dormir, e antes de conseguir abrir a porra da torneira, depois de ter feito a porra do primeiro chichi da manhã, deixei cair a chave de fendas, dentro da porra da sanita.
E apesar da porra do mijo chichi que já há aqui porras que cheguem ser meu, foi coisa para me arrancar logo um vómito seguido de "a falta que faz a porra de um homem, numa casa".
Porra, que tenho de arranjar um homem. Mas um homem que seja a porra de um canalizador, que me resolva o problema, e que se ponha na porra da alheta.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Onde há fumo...há fumo.

A miúda foi ver Hardewell ao Meo Arena. 
Eu estiquei-me no sofá, a dormitar levemente enquanto as horas passavam à espera de a receber sã e salva, ainda que exausta.
A miúda chegou, às três e meia da manhã, sã e salva, exausta, e esfomeada.

- Ai mãe, tinha tanta fome, tanta fome, e cheirava tanto a fumo, e vários tipos de fumos, se é que me entendes, que às tantas aquilo já me cheirava a pizza, e eu olhar para os lados "mas onde é que estão a fazer pizzas?"

e eu ainda ontem lhe trocava as fraldas e lhe besuntava aquele rabo com halibut...


quinta-feira, 5 de março de 2015

Dinossauro

Vá-se lá saber porquê, mas este post da Linda Porca,  fez-me lembrar, que há uns anos, era o meu miúdo muito mais miúdo do que é agora, e ia fazer anos. Uns cinco, talvez. E adorava brincar com animais. Aqueles animais de plástico, ou borracha, ou sei lá, que custavam os olhos da cara na imaginário, e que ele tinha às toneladas. Três caixas de plástico daquelas do Ikea, à tulha daquela brincadeira. E espalhava-os todos, em carreirinha, qual selva, pela casa fora (velhos tempos que já lá vão, e que só não deixam saudades pela desarrumação constante, e porque não era simpático, ai não, que não era, pisar de quando em vez um daqueles bichos, que aquilo doía, ai que doía).
Ora que o miúdo fazia anos, e uma amiga que convidei para o jantar de comemoração de tão importante dia, me liga já atrasada para o dito, em pleno centro comercial.
- O que é que eu ofereço ao miúdo?
- Sei lá. Compra-lhe um animal. Um daqueles, que se vendem nessas lojas que têm animais, sei lá... (eu sei, eu sei que também não fui muito explicita, mas estava no meio de um cozinhado, e a "coisa" saiu-me assim)
- Mas que animal?
-Sei lá... Pode ser um dinossauro...

Chega-me a casa com um saco da Zara.
- Comprei-lhe uma camisola. Fui à loja de animais e ainda se riram na minha cara, mas tu disseste um dinossauro, não disseste?

(fiquei uns minutos a olhar para ela, e depois só confirmei se era mesmo verdade. se tinha ido a uma loja de animais, de animais mesmo, vivos. e tinha.)

Cérebro é fogo que arde sem se ver

- mãe, tu achas que no tempo do Camões já havia drogas?
- mas que raio de pergunta é essa?
- é que ele só podia estar drogado quando escreveu isto...

a miúda, a estudar Camões lírico, e já em fase de começar a fumegar a qualquer instante...

quarta-feira, 4 de março de 2015

Neura

Em modo neura.
Numa só semana (esta), os dois miúdos de molho. Mas intercalados. Primeiro ela. Depois ele. Podiam ter sincronizado a gripe, e tinham-me poupado tanto tempo em casa. É que um dia, até sabe bem. Três dias úteis, colados ao fim de semana, é no mínimo neurótico.
E depois, já não são tão chatos, como no tempo em que se engripavam ainda bebés, e choramingavam dia e noite. Não. Essa fase já lá vai. Agora a choraminguice é substituída pelo oportunismo de ter uma criada sempre à mão "mãe, podes trazer-me um copo de água se faz favor?, mãe chega-me o comando da televisão, mãe tenho frio, traz-me aí uma manta, mãe apetece-me uma torrada, mãe não me apetece esse almoço, podes fazer-me outra coisa? mãe, podes trazer-me lenços de papel?", e quando uma pessoa olha para o termómetro e para aquelas faces rosadas, e se chega para dar mimo, como quando eram bebés a cheirar a febre, ouve "oh mãe, chega-te pra lá, que eu estou a morrer de calor" .


terça-feira, 3 de março de 2015

Cabra

Apesar de não me ter sido concedido o dom de parir filhos anjos, não tenho tido grandes razões de queixa, dessa ingrata que me entrou pela porta dentro, sem aviso prévio, essa cabra: adolescência. Não. Não tenho tido grandes razões de queixa, a comparar com o que vejo em portas alheias. O miúdo, caminha devagar para aquela  adolescência temida, uma resposta sempre pronta, uma ou mais reclamações por dia, a constatação quase diária desta vida injusta.

A miúda, muito mais calma, muito mais pacata, ela sim, a caminhar com passos largos nessa cabra adolescência, pura e dura, salvo numa ou noutra situação, é uma paz d'alma. Mas temo. Temo veementemente que esta acalmia tenha os dias contados. E dei por mim a proferir a frase, outrora deveras utilizada pela minha mãe, coitada, também ela tão fustigada por essa cabra adolescência. "a escola onde tu andas, já eu lá fui professora".

Agora sim, tenho a certeza que terei de ver as cinquentas sombras. Pelo menos, terei a certeza do que ela verá. Sim, porque ter sido apanhada, ela e as suas comparsas, de bilhetes já comprados para o dito filme, depois de lhes ter sido negado tal pedido, e de verem os bilhetes trocados por uma comédia sem o conteúdo apetecível, tenho a certeza de que a curiosidade ficou mais aguçada ainda. E a escola onde ela andou, já eu fui professora. E ainda me parece que foi ontem.
Bolas para a adolescência. Essa cabra. Essa puta.