sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Dar valor às fórmulas (não) perfeitas

Na escola colégio dos meus filhos, há uma reunião por mês. Podemos queixar-nos de muita alguma coisa, de falta de informação, não. As reuniões são a horas muito pouco propícias (16:40), o que faz com que a maioria dos pais nunca ponha lá os pés. Eu, que por hora consigo agilizar os meus horários, vou sempre. O miúdo, agora no sétimo, está a conhecer todos os professores que até há uns meses foram da irmã (sendo que alguns, dão aulas aos dois).
Vou primeiro à directora de turma dela. Que também é professora dele. Pergunta-me para começar "então, o que me tem a dizer?", respondo-lhe na mesma moeda "o que me tem a dizer pergunto eu". Não havia muito a dizer. A miúda está aplicada, igual a si mesma, no seu registo sossegado em género "não se metam comigo, que eu não me meto com ninguém", que é como quem diz, estou aqui tão sossegada, não me perguntem, não me façam participar (muito menos em debates filosóficos, que eu não percebo nada desta porcaria, e o que me havia de calhar agora na sopa).
Oiço pela quinquagésima vez o quão diferentes são os meus dois filhos. Não preciso que mo digam. Constato o facto todos os dias. Fisicamente o oposto, personalidades opostas.
Ele participa constantemente sem pôr o dedo no ar "não sei qual é o problema, se uma pessoa não participa, é porque não participa, se uma pessoa participa, é isto? devias era estar orgulhosa de mim!", ele conversa até com o lápis (não sem antes o trincar até ao tutano), e depois tem um azar dos diabos, porque nunca fala, e da única vez que o faz, é apanhado. Um menino azarado, o meu filho. E depois, dizem-me que é muito educado, que pede mil vezes desculpa, e que é tão engraçado, que até se torna difícil repreendê-lo (como eu compreendo o dilema). E as notas vão surgindo, naquela média dele do quatro, com pouco quase nenhum estudo, o inverso dela que se farta de trabalhar, para o conseguir. O mix dos dois, era a perfeição, mas não há fórmulas perfeitas, e bem vistas as coisas, se assim fosse, também não tinha piada nenhuma. 

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Vale a pena mentir (às vezes)



"Está na altura das broas",diz-me a minha mãe."Se hoje estivesses com paciência, fazíamos uma fornada. O teu forno é melhor que o meu, despachávamos isto num instante".
Não estou com paciência, como aliás não tenho tido, para quase nada. Minto, faço o esforço, penso. Até é capaz de me fazer bem. 
"Temos de fazer uma quantidade valente", diz-me. A quantidade que quiseres, penso. E até podemos fazer a receita que a vizinha do lado me deu o ano passado, e fazemos render o peixe.Afinal, a fornada valente, destina-se a umas quantas pessoas "temos de dar à tua irmã,à vizinha da tua irmã, à tua amiga, à tia, à madrinha, à vizinha que te passeia o cão, e à vizinha do lado, que também te deu o ano passado".
Num instante o cheiro a canela e erva doce invadiu a casa. Não num instante, mas numa tarde inteira, saíram do forno dezenas de broas de duas qualidades diferentes.
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Numa tarde, mãos de três gerações distintas (mãe, filhas, neta) com a mesma desenvoltura, moldaram bolinhas de massa crua, numa cumplicidade saudosa.
Por vezes vale a pena mentir, e fazer um esforço.


Infinito. Sempre

A minha amiga, que tem uma filha, amiga da minha filha, e que por sua vez são da mesma turma, ligou-me:
-A tua já te ligou?
-Não. porquê? A tua ligou-te?
-Ligou. Já receberam a nota de português.
-E então?
-A minha teve dezoito, mas disse que não sabia a nota da tua, que tinha ido à secretaria e não tinha tido tempo de lhe perguntar.
-Hummm... não acredito nisso. A minha teve nega, de certeza. E isso foi desculpa.

Liguei. Não me atendeu. Mandei mensagem "filhota, então a nota de português? Um bj. Gosto muito de ti"

Duas horas depois, retribui-me a chamada:
-Olha mãe, não tive nega, não penses. Aquele teu "gosto muito de ti", foi mesmo do género, "mesmo que tenhas nega, não te vou expulsar de casa"... Tive uma treta de um doze.

Nunca me chateei  seriamente com uma nega (das poucas que recebeu ao longo da sua vida académica) desde que reconhecesse não ter sido por falta de empenho (o que neste caso, não seria, de todo), portanto concluo que não tenho dito tantas vezes (como outrora) o quão gosto dela(e). E que as notas,  melhores ou piores, não condicionam jamais o amor infinito que nos une. E que acima de tudo, só quero que sejam felizes.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Mentira. Pura mentira

Uma pessoa quando compra uma casa (ou a aluga ao banco - como quiserem - mas acha maravilhoso para o país, fingir que a casa é sua e pagar esse filha da puta do IMI ao estado), na maioria das vezes fá-lo porque necessita de mais espaço. Foi o meu caso, há uma parga de anos atrás.
Olha que bonita, esta sala espaçosa e airosa, uns quartos simpáticos, um terraço fantástico, uns roupeiros porreiros, muita arrumação, falta-lhe apenas uma despensa. Um mal menor. Um mal menor, quando se tem uma fantástica arrecadação com alguns dezassete metros quadrados. Um mimo. Problemas de espaço, é que não vamos ter.
Mentira. Pura mentira. Ao fim ao cabo, depressa se chega à conclusão, que a roupa está a modos que prensada dentro do roupeiro, e para vestir uma camisa em condições, é preciso (re)passa-la de manhã, à pressa, enquanto se rogam não sei quantas pragas, ao tamanho dos roupeiros, bem como à quantidade de roupa, que é tanta e parece sempre tão pouca.
Então olham-se para o dezassete metros quadrados de arrecadação, e rapidamente se traça um plano. Chama-se o carpinteiro, e depressa se monta um roupeiro que se destina à roupa da estação não vigente. Mandam-se fazer umas prateleiras até ao tecto para maximizar a arrumação, compra-se um escadote gigante (que o pé direito é bastante alto), e agora sim, temos sítio para arrumar tudo. A organização no seu pleno.
Mentira. Pura mentira. Em três tempos as prateleiras estão cheias. Cheias de tralhas que não se usam há uma mão cheia de anos, mas que não se deitam fora, porque ainda podem ser necessárias (mentira. pura mentira). E depois com os anos, às tralhas existentes acumulam-se novas tralhas, que não cabendo em casa, se levam para a arrecadação. E uma pessoa chega lá, abre a porta, e pensa onde vai encaixar mais esta prancha de bodyboard, e mais os fatos de bodyboard, e mais o calçado de verão, e mais os patins em linha. E encosta ali, no chão, nos poucos metros quadrados disponíveis. E uma pessoa pensa, tenho de vir dar um jeito nisto.
E quando se volta a precisar de lá entrar, para abrir o roupeiro e fazer a troca de roupa de verão para a de inverno (o drama a cada mudança de estação), uma pessoa descobre que as prateleiras do roupeiro que se destinavam a livros que não cabiam em casa, cederam com o peso, e os livros estão todos caídos no chão. E o acesso ao restante roupeiro está vedado pelas tralhas já colocadas ao calhas, e a cadeirinha de bebé  que estava arrumadinha no topo do roupeiro também caiu com todo aquele aparato (e uma pessoa pensa, que já não tem bebés, nem planeia mais nenhum, mas há o sobrinho, e os outros que hão-de vir,  e vá, ainda vai dar jeito).
E uma pessoa tenta empoleirar-se em cima do escadote gigante (que espaço não tem para abrir por completo por todas as tralhas espalhadas), e pensa, se me baldo daqui abaixo parto-me toda, fico aqui a ganir o resto do dia, e só me encontram já morta passados três dias. E uma pessoa desiste, vira costas, tenta esquecer o caos e pensa, tenho de vir dar um jeito nisto.
É hoje.
Caso a minha ausência seja prolongada, algures numa arrecadação, sem acesso a rede móvel, incontactável portanto, poderei estar eu, caída e submersa em tralhas que eu acho que ainda me fazem falta (mentira. pura mentira).

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Um problema tão meu

Uma grande amiga minha, acabou de me mandar a seguinte mensagem (privada) via facebook : "vi esta imagem, e lembrei-me logo de ti"


Querida amiga, obrigada por não o teres partilhado publicamente. Só os meus amigos mais íntimos sabem desta minha questão fisiológica/psicológica.
Mil e uma razões para jamais participar num reality show. Mas caso o fizesse, faria com certeza capa de revistas com uma hipotética gravidez, que não mais seria que uma barriga cheia de merda. 

sábado, 25 de outubro de 2014

Um quadradão do pior #2

Ainda a propósito do meu filho ser um quadradão do pior,
ontem de manhã, enquanto descíamos de elevador para a garagem, para mais um dia de escola/trabalho

Filha, dirigindo-se à minha pessoa: " essa camisa é mesmo gira, e fica-te mesmo bem. estás bonita hoje"

Filho: "isso é porque não estás a olhar para a camisa do mesmo ângulo que eu. porque se estivesses a ver por este ângulo, percebias que se vê que a mãe tem um soutien de lingerie branco"

Eu: "isso é porque não estás a olhar para o ângulo das minhas costas. se não, percebias que a nesga do soutien DE LINGERIE (?) que tu vês, é causado pelo peso que carrego às costas, que é nada mais nada menos, que a tua mochila de dez quilos. e tenho pena, mesmo muita pena da namorada que um dia te vai calhar na rifa"




quinta-feira, 23 de outubro de 2014

"bem-quereres de saudade"

"- Como se mede a saudade?" perguntou-lhe.
"- Mede-se em bem-quereres!" respondeu.
"- Tenho milhares de milhões de bem-quereres de saudade!" disse, então.

(roubado descaradamente daqui - onde vale a pena "passar" diariamente)

Saudades, tantas, dos locais onde outrora fui feliz.
Saudades, tantas, milhões (de bem quereres) sempre (de ti, avó).





quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O peso do nome

Ainda a propósito do futebol em nossa casa.
O miúdo vai poder colocar pela primeira vez o seu nome nas costas da camisola (sim, que aquilo é um clube pobrezinho e não fosse o patrocínio de um pai, não havia cá destas mariquices).
Espantou-me o facto de se ter decidido por colocar o apelido. Sem pedir opinião, sem dar cavaco a ninguém.

- É para perpetuar o nome ? - Perguntei-lhe. O pai, o tio, o primo, foram todos jogadores profissionais a usar o apelido com orgulho nas costas.

- Não é bem por isso. É porque achas que eu tenho nome de jogador? Por acaso achas? Tu puseste-me um nome de miúdo. Conheces algum adulto com o meu nome? Achas que alguém me vai levar a sério em campo, com este nome nas costas?

(estou a refletir sobre o tema. ainda.)

A singularidade do isento

Cada vez acho mais que os meus filhos deviam substituir o tempo que passam agarrados ao telemóvel, por um bom livro. Não é tarefa fácil, mas juro que vou tentar.
Assim, a miúda, que está no 10º, e fez o seu primeiro teste esta semana, confessou-me que não sabia o significado de "singularidade". Assim como não compreendeu bem o texto, acerca do qual tinha várias perguntas de interpretação (estou a tremer com a nota que aí vem).

O miúdo, pediu-me para imprimir do site da Associação de Futebol de Lisboa, os dois  calendários de jogos, dos dois escalões onde está inserido. Não foi tarefa fácil, e constatei que há um sem número de clubes por este distrito fora, assim com uma fornada imensa de miúdos com pretensão  a jogadores da bola. Depois de impresso, verifiquei com agrado, que num dos escalões em que ele joga, há pelo menos quatro jornadas em que não vão jogar. O que me induziu a esperança de quatro sábados a poder dormir até mais tarde. Um bónus, portanto (pelo menos, para os pais).

-Então filho, vocês este campeonato vão parar uma serie de vezes...
-Não, não vamos.
-Vão, vão. Não viste o calendário?
-Vi, mas não vamos parar.
-Vão. Na segunda jornada param já.
- Não, não paramos. Vamos jogar com o ISENTO.
- Filho, o isento, não é um clube.
- Claro que é um clube. O isento é um clube.
-Não filho, não é. E tu nem digas uma coisa dessas no balneário, que isso é uma vergonha. O isento quer dizer que vocês estão livres, dispensados de jogar.

Olha para mim, meio corado, meio envergonhado, meio em pânico.

- Fogo, não acredito nisso! Então nós íamos jogar quatro vezes contra esses gajos!!!


(eu disse, um bónus para os pais. 
eu digo, gajos, o meu filho diz gajos?
eu disse, mais leitura. obrigatoriamente.)

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Precoce

Andava eu a cantar de galo, que a adolescência por estas bandas, até estava a ser de certa forma soft. Bem sei que às vezes me queixava, de uma ou outra coisinha na miúda, mas depois batia logo na boca. Que ainda a procissão vai no adro, e eu não me podia queixar. Uma santa a minha filha, uma santa nestas andanças conturbadas da adolescência. Por hora.
Bem sabia, que o miúdo estava prestes a pisar estes terrenos, tortuosos e possivelmente difíceis. Bem sabia, mas também sabia que isto nos rapazes dá-lhes um bocado mais tarde, o que me daria tempo de me ambientar à questão, e de alguma forma me preparar (alguém se prepara para isto?).
Cantei de galo, cedo de mais. O miúdo ou é precoce, ou está parvo de todo. Feitiozinho de merda, resmungão, a levantar garimpa, armado em engraçadinho, a reclamar das calças, da camisola, e do raio que o parta, agarrado ao telemóvel artilhado com códigos para que nunca alguém se atreva a espreitar quem envia tanta mensagem em tão curto espaço de tempo, a pentear minuciosamente a franja com gel, secador, mais para esquerda, um ligeiro toque para trás "tenho de ir cortar o cabelo", irritado com aquela penugem no lugar do bigode "mãe, arranca-me lá isto com cera", e a fazer um esforço desmedido para tomar as vitaminas que "têm um sabor nojento" mas lhe dão a esperança que o façam dar o tão esperado pulo, e o ponha ao nível dos outros miúdos da sua idade, que está farto de ser o mais baixo da equipa, o mais da turma, e o mais baixo da maioria dos miúdos mais novos que ele uns dois anos.
Por isso, olho para ele, rapazinho pequenino, no cimo dos seus doze anos empertigados e pergunto-me , isto é uma adolescência precoce, só pode ser, não é? 
(espero que sim, porque se for feitio, estou/estamos tramados) 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Futebólódependentes Anónimos

Já tinha percebido que esta coisa do futebol no meu miúdo, é mesmo uma coisa intrínseca, que lhe sai por todos os poros da pele, que o faz feliz, que o anima.  Mas temo que se torne doentio, que se transforme numa obsessão, num vício, e quiçá tenha de ser eu a fundadora dos Futebólódependentes Anónimos. 
Joga em dois escalões, logo, treina em dois escalões. Horas, muitas horas. 
Sábado no escalão infantil, às 8:30 da manhã (repito, sábado: oito e meia da manhã) era suposto ter jogo treino. A equipa adversária não compareceu.
Quando desabafou comigo a injustiça do momento, fez um esforço para que ninguém visse aquelas duas lágrimas  traidoras, fugitivas, a quererem anunciar uma fraqueza/tristeza que a mais ninguém dizia respeito.
Domingo no escalão iniciados, às 9:30 da manhã (repito: domingo: nove e meia da manhã), era suposto ter o seu primeiro jogo para o campeonato. Mas tinha chovido a noite toda, o campo parecia uma plantação de arroz, e para tristeza dele, o arbitro mais não fez que o óbvio e razoável. Cancelou o jogo, adiado para outra núpcias. 
"eu ando a semana toda a acordar e a pensar quantos dias faltam para o fim de semana, para poder jogar, e depois é isto? nem um joguinho? nem um?"
Vais estudar para o teste de Português, disse-lhe, e assim ainda estás mais fresquinho.
Pedi-lhe que fizesse uma composição, "dá-me um tema" diz-me ele. De repente não me ocorre nada, e atiro "uma aventura no bosque encantado", coisa que dá pano para mangas, que é como quem diz, milhões de maneiras de dar asas à imaginação, que é como quem diz, não há desculpas "não me ocorrem ideias", o pão nosso de cada dia.
Aparece-me com uma página e meia escrita, eu penso que o tema foi de facto sugestivo, e leio. O primeiro parágrafo descrevia a sua incursão bosque dentro, e o aparecimento de um esquilo com uma pedra oca na mão. Devia tocar-se seis vezes na dita pedra, para entrar num outro espaço da floresta. Comecei a ficar entusiasmada, um esquilo com uma pedra (oca?), o pormenor dos seis toques, o suspense e a adrenalina perante um novo espaço encantado, já denotava alguma criatividade e imaginação. A coisa ia bem encaminhada.
Ultrapassado o primeiro obstáculo (que é como quem diz, seis ligeiras batidas numa pedra oca), eis que entramos num novo espaço geográfico. Um novo recanto da floresta, onde se avistava um belo campo de futebol. Novo obstáculo (embora não saibamos o objectivo do mesmo), uma partida de futebol entre a equipa dos batoteiros e ele (que depressa arranja uns comparsas para formar uma equipa, embora não saibamos se são outros humanos transeuntes como ele, ou um grupo de animais encantados - e não sabemos, porque esta descrição se faz em apenas uma linha). Todos os outros parágrafos são a descrição pormenorizada de um emocionante jogo de futebol. Com direito a minutos de jogo e tudo. A história termina da forma mais emocionante e heróica possível, quando ao minuto noventa mais três (atente-se ao pormenor 90+3 - significando que estávamos já em fase de descontos) com o jogo empatado, ele, ele mesmo, marca um belíssimo golo (com a descrição exacta de como o fez, incluso efeito da bola), terminando o jogo com uma vitória e um espectáculo nunca antes visto na floresta.
Corrijo os erros ortográficos (bolas, que este miúdo tem de ler mais), e peço-lhe que faça um convite, coisa que andam a treinar em aula. Pergunta-me o tema, atiro "convida alguém para o teu casamento". Torce-me o nariz, três minutos depois apresenta-me o resultado. "Exmo. Sr. Jorge Jesus, gostaria de o convidar para uma partida de futebol ..."
Penso pedir-lhe uma crónica. Desisto. Não me apetece ler a crónica daquele jogo, entre a equipa do Jorge Jesus e a dele. Digo-lhe, podes fazer uma pausa. Boa, diz ele, agarra numa bola e corre com ela nos pés.  

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Plausível;Acreditável;Credível

A minha miúda está no 10º ano.
Um destes dias, o professor de filosofia (disciplina que têm pela primeira vez na vida), perguntou numa aula se sabiam o significado da palavra "plausível".
Um dos colegas da minha filha respondeu "acreditável".
Perante esta resposta, o professor soltou uma gargalhada, dirigiu-se em passo apressado à sua secretária, puxou de um bloco onde escreveu a palavra proferida pelo aluno, e a sorrir justificou a acção:
"isso não existe. e não me leves a mal, mas eu estou a escrever um livro com as gralhas que os alunos dizem. tudo anónimo, ninguém vai saber que foste tu".
O miúdo, não sei se corou (se fosse a minha, corava na certa, que nem um tomate maduro e seria motivo para estar desconcentrada o resto da aula, a pensar no assunto), e nesse instante, outro aluno resolve atirar "credível". 
O professor olhando para o miúdo do "acreditável", diz "era isto que querias dizer, não era?"

Errar é humano. Os professores também erram. 
Para este professor não saber a existência da palavra em questão, não me parece credível, mas... dou-lhe o benefício da dúvida. O que já não me parece plausível, é este professor estar a escrever um livro acerca das gralhas que os alunos proferem em aula, sendo que, não estamos a falar de criancinhas do pré escolar em que a "coisa" até podia ter a sua graça. Estamos a falar  de alunos do secundário, entre os quinze e os dezoito anos no mínimo. Um professor deitar abaixo a confiança e auto estima de um aluno, perante o olhar de uma turma, é que não me parece de todo acreditável. Principalmente, quando a maior "gralha" foi a dele. 

Assim, espero que o referido aluno, tenha já elucidado o referido professor acerca  da referida palavra, sendo que, apesar de não ser (exactamente) o sinónimo pretendido, existe.

a·cre·di·tá·vel 
adjectivo de dois géneros
Que pode ser acreditado.


"acreditavel", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/acreditavel [consultado em 14-10-2014].

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Um quadradão do pior #1

Ainda a propósito do meu filho ser um quadradão do pior,
num jantar em nossa casa, com uma pessoa que nos visitava pela primeira vez:

O convidado a referir-se à minha pessoa: "Devias ter sido  decoradora de interiores"
O meu filho a dirigir-se ao convidado com os olhos quase a saltar das órbitas: "O quê? Aquelas pessoas que ajudam os outros a escolher cuecas e lingerie? Nem pensar!"

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Instagramizada

Já aqui tinha dito, que criei o meu facebook, por altura em que cedi à criação do da miúda. Para controlar e bisbilhotar e perceber o funcionamento da "coisa", e tal. Dois anos volvidos, estava já eu "batida" na questão, o miúdo também criou o seu. Tudo mais ou menos controlado.
Acontece que, o facebook passou a ser uma coisa de "pessoal mais velho" para não me dizerem cotas, com certeza., que levavam logo uma galheta.
Agora estamos na onda "instagram". Andei algum tempo a anunciar que também ia criar um, não que me apetecesse, que me fizesse falta, mas essencialmente pela mesma razão com que criei o face.
Cada vez que falava na questão ouvia logo um "mas 'pra quê?", vindo na maioria das vezes da parte do miúdo, que ás vezes parece saído do século passado (bem no início do século passado), um quadradão do pior.
Deu-me na mona, e criei o meu. A miúda veio, prontamente ajudar na instalação, deu dicas, mostrou-me o dela. O miúdo fez ar de rezingão, rezingou, e ainda me perguntou se eu andava com a mania que era fixe.
Publiquei umas quantas fotos, tornei-me seguidora de umas quantas pessoas, deixei-me seguir por outras tantas. Até aqui tudo bem. Dias volvidos, descobri que existem regras. Passos que não devo dar, sob pena de ver a minha pessoa assim a modos que enxovalhada,  neste mundo do "insta".

Assim,
Dicas e regras dela:
Nunca publicar mais do que uma foto por dia, para que não pensem que estou desesperada ( WTF ! desesperada? mas desesperada porquê ? bem, assim com'á assim, não publico, que desesperada não estou, a não ser por mais uns trocos na carteira, e isso o insta, ainda não prometeu pagar-me por publicar o que quer que seja) 

Não colocar gostos em tudo o que vejo, para que não pensem que estou desesperada (outra vez?)

Colocar o meu perfil privado, para que só me siga, quem eu aceito (desta gostei. sinal que eles aprenderam as regras que lhes incuti no face, embora aposte que  não conhecem de verdade, todos os seguidores que têm)

Não fazer comentários ridículos em fotos deles (entenda-se meus filhos. bom, isso ás vezes é relativo. o que para mim não é nada ridículo, é muitas vezes para eles ridiculíssimo, mas, prometo tentar. palavra de escuteira que nunca fui)

Não publicar fotos deles, sem o seu consentimento ("oh mãe, tira essa foto! 'tou nojenta/o!" - bom, também nunca lhes disse que uma mãe instagramizada, tem de cumprir todas as regras dos filhos, pois não?)

Dicas e regras dele:
Uma mãe, nunca devia ter Instagram (é um filho azarado, coitado)

Uma mãe não devia ter a mania que é fixe, e armar-se em adolescente, e criar Instagram (este filho é meu?)

Uma mãe, além de não poder usar decotes(ainda que discretos), mini-saia, ou qualquer indumentária que denuncie as suas formas, também não devia poder usar um integram (juro, que não sei a quem saiu. juro)

Uma mãe, não devia ter seguidores (mas tem. poucos, mas tem)

Uma mãe, devia limitar-se única e exclusivamente ao papel de mãe (o que para esta mãe, implica seguir os seus filhos nas redes sociais...)

Pronto, ficam as regras para as mães que se quiserem instagrar, ou instagramizar, ou o raio. Essas malucas, doidivanas, e armadas em miúdas, como eu.




Profecias

Já a minha mãe dizia  (e eu que sempre fui teimosa o suficiente para dar ouvidos à senhora minha mãe a minha filha que não leia isto ) "quando se avaria uma coisa, avariam-se logo duas ou três". Não sei de onde vem o presságio, a superstição, ou o raio, mas  desde que estou "por conta própria", tenho verificado que o lema se comprova. Assim, de cada vez que se avaria qualquer coisa, fico logo com o coração nas mãos e a pensar na avaria subsequente espero que não seja uma coisa pesada/pesada nos dois sentidos.
A máquina de secar avariou. Dei conta, assim que começou a chover a potes e  me vi com os estendais cheios, de cagulo. Benditos cinquenta euros para a extensão de garantia. Tinham passado três meses dos dois anos de vida, e consequentemente da garantia obrigatória. Talvez pela alegria dos cinquenta euros mais bem gastos dos últimos anos, não pensei na profecia. Este arranjo não me iria sair do bolso.
Mas, comecei a ouvir uns ruídos estranhos, vindos da minha casa de banho. Eu estava sozinha em casa, e fui aprofundar a questão. O autoclismo estava a ganhar vida própria. Olhei e ouvi com atenção. Estava a perder água. E a porra do autoclismo está escondido numa parede. Modernices. Esteticamente, o máximo, mas e agora como é que se evitam litradas de água sanita abaixo e uma conta exorbitante, até que venha um canalizador? A falta que faz um homem numa casa, que o miúdo não conta ainda, chama-se o cunhado, não para arranjar, que ele até é jeitoso( "mas com o autoclismo embutido, não sei como se faz"), mas para descobrir a torneira de segurança que eu não a avisto em lado nenhum. Penso, tenho de arranjar um canalizador.
Ante ontem, avariou a prancha do cabelo. Foi a miúda quem deu o sinal de manhã ("mãeeeee, a prancha não liga, como é que eu vou com o cabelo cheio de altos para a escola????).
Balbucio umas asneiras entre dentes, minto e digo-lhe que o cabelo está perfeito, saímos de casa e penso, tenho de comprar uma prancha nova. Também me faz muita falta.
Ontem, avariou-se o secador de cabelo. Foi a miúda quem deu o sinal à noite (mãeeeee, avariou-se o secador! Como é que eu vou com o cabelo molhado para a cama????).
Enquanto preparo o jantar, balbucio umas asneiras entre dentes, penso no raio da profecia e da superstição, faço contas às avarias (quatro? bolas, não era suposto serem  só três?), e digo-lhe para ir secar o cabelo à casa da vizinha. Penso, também tenho de comprar um secador.
Hoje de manhã, o miúdo chegou à casa de banho, onde tinha colocado o seu telemóvel a carregar na noite anterior e disse : "mãeeee! a prancha e o secador não estão avariados! esta tomada é que pifou! o meu telemóvel não carregou!"
Pronto, afinal temos homem nesta casa. Ainda que pequenino, perspicaz.
Penso, mandar arranjar a máquina de secar, mandar vir um canalizador, mandar vir um eletricista.
E são três.
Profecia comprovada.



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Se, e se...

Já lá vão quinze dias de aulas. Os ritmos chegam lentos, a metereologia baralha os sentidos. O inicio do ano escolar foi marcado com chuvas e com  cheiro a outono, esta semana sabe-nos a verão. O regresso das aulas ontem, foi brindado com uns banhos de piscina, os trabalhos de casa ficaram na gaveta até o pós jantar. A hora de deitar ainda se estende até muito depois da hora marcada, a hora de acordar, essa, continua obrigatoriamente a mesma. 
Um novo ciclo para os dois, embora o espaço continue o mesmo. A miúda, ansiosa por uma liberdade aparente queria ter dado inicio ao secundário numa outra escola. A mãe, preocupada com esta caminhada, deixou-a ficar no mesmo colégio. O investimento foi largo, e muito, durante os últimos nove anos, e agora, agora sim, vai contar, as médias, as notas, faz-se mais um sacrifício, a miúda fica, até ver. A miúda conforma-se, aceita, reconhece que é talvez o melhor, são os ses, que nunca sabemos, fica no colégio, pede apenas para almoçar fora.
A mãe, que há anos faz duas marmitas, calcula o custo, reconhece que o atravessar uma estrada para comer fora, lhe dá o falso estatuto de menina crescida que pode sair do colégio, concorda e até se despacha mais cedo, com apenas uma marmita para preparar de manhã. 
A miúda chega a casa todos os dias, elogia a maravilha de pratos de come no restaurante ("mas posso não comer a sopa?), mas acrescenta que a comida da mãe é mil vezes melhor, e que é agora que percebe, o quão boa cozinheira a mãe é ("mas posso não comer a sopa?").
A mãe sente-se orgulhosa desta filha, que sabe reconhecer ("a sopa tens de comer"), que sabe aceitar ("só uma concha, mas tens de comer"), e que ainda ouve uma mãe, que faz o que acha melhor, muito embora existam sempre os "ses" e as dúvidas se assim é.