terça-feira, 28 de abril de 2015

Gaba-te cesto, que vais à vindima

No carro, a caminho do treino de futebol, miúdo ao meu lado, equipado, pernocas à mostra.
Começa a contrair os músculos, e diz-me:
-Olha-me só esta musculatura, hein? 

Olho-lhe as pernas, ainda despidas de pêlos, mas bem definidas, meu homenzinho pequenino. Tiro uma mão do volante e pouso a mão na sua perna ainda contraída.
-Psst... Tira daqui a mãozinha que isto é propriedade privada...

Sorrio. E ele remata:

- Cada pessoa tem o seu corpo. E as pessoas não se devem queixar do seu corpo, porque cada qual tem o seu. Mas depois há aquelas pessoas assim como eu, que tiveram a sorte de ter um corpinho destes...


 

Adolescência (também) é isto

Ontem, no carro, a caminho da escola:
- Mãe, estou muito preocupada com o teste de fisica/quimica. Percebo aquilo, mas depois há sempre qualquer coisa que me falha nos problemas... para além disso também estou preocupada com a minha festa de aniversário. Estive aqui a pensar, e das duas uma, ou não faço nada, ou faço uma coisa muito pequena só com as minhas amigas mais chegadas. Tipo, só quatro amigas, 'tás a ver? É que é assim, apetecia-me convidar o meu grupo todo de amigos. Mas olha, os rapazes são uns imaturos, infantis, e estão sempre com parvoíces. Tu nem imaginas... Depois apetecia-me convidar imenso pessoal da minha turma do ano passado. Mas depois, separam-se logo todos por grupinhos. Depois não consigo dar atenção a todos. Depois apetecia-me convidar uma ou duas pessoas da minha turma deste ano. Mas depois há outros, que se não forem convidados, ficam melindrados. Por isso, olha, não sei, mas se calhar vamos só cinco amigas sair.

Aí, decido levantar uma ponta do véu:

- Olha filha, eu percebo isso tudo, mas sabes que o teu grupo de amigos se está a juntar para te comprar um presente que é um bocado caro, e depois é chato, terem entrado todos na angariação de fundos para o presente, e deixares mais de metade fora da festa...

- Ai é? Então está decidido. Não faço nada e fica o assunto arrumado.

-Oh filha, mas são os teus dezasseis anos...

- Pois são. E o ano passado foram os meus quinze, e para o ano serão os meus dezassete...

Calei-me, e andei todo o dia assim a modos que angustiada, com o facto da miúda se preocupar com este tipo de coisas, e deixar passar a data em branco, sem qualquer comemoração com os amigos.

Ao fim da tarde, no carro, de regresso a casa:

- Mãe, afinal já me decidi, em relação à minha festa. Não vai ser uma. Vão ser duas. Na sexta, vou com as amigas mais chegadas ao Main, já quase todas temos dezasseis, de certeza que nos deixam entrar,  e no sábado faço uma jantarada com o resto do pessoal todo, ali perto de Santos. Já fiz a lista, somos quarenta e tal. Ah, e já estou a perceber bué de fisica/quimica. 

Da angustia que senti anteriormente, passei para o modo "em choque", do qual padeço até hoje. 


terça-feira, 21 de abril de 2015

Deprimida

Fui buscar a miúdagem à escola. Os meus, e as duas da minha amiga.
As mais velhas lançaram o último tema da aula de filosofia. Debatiam uma das teorias de Kant e a discussão era:

A tua mãe estava numa linha de comboio, prestes a ser atropelada. Tu ias no comboio, e sabias que se mandasses porta fora três gordos que iam na mesma carruagem, o comboio conseguia mudar de linha, e salvavas a tua mãe. O que fazias neste caso?

Fiquei a saber que de toda uma turma, com vinte e três alunos, a minha filha era a única que não me salvava. A única.  Vinte e duas mães salvas e eu  condenada a morrer trucidada por um comboio tresloucado. Quando a miúda me ouviu pela terceira vez - eu agarrada ao volante, ainda em choque a imaginar o cenário - "mas foste a única a não salvar a mãe?", ela justificou:

- Oh mãe, tu já estavas na linha. E os três gordos? Tinham alguma culpa nisso? Então, eu ia sacrificar a vida dos três gordos, completamente inocentes, por ti? E depois? Por muito que eu gostasse de ti, os outros três não tinham culpa nenhuma. Para além disso, o que é tu estavas a fazer na linha do comboio, hã?

Ouvi a versão da amiga:

- O instinto é salvar os nossos. Além disso, se eram gordos, tinham grandes hipóteses de morrer mais cedo por problemas com a obesidade.

- Não te cabe a ti decidir isso - respondeu a minha.

Entretanto, o ex-rei veio cá a casa, e em mais uma conversa com o miúdo acerca do futebol versus escola versus amigos versus namorada, versus prioridades, ele pediu-lhe para desenhar num papel quatro círculos. Cada circulo tinha uma correspondência. Família, futebol, escola, amigos/namorada. O tamanho do circulo de cada um, devia corresponder ao tamanho da importância de cada uma destas coisas, na vida dele. O circulo maior, era o do futebol. Ligeiramente maior do que o da família. 

Se a miúda me mata numa linha férrea, o miúdo chuta-me para canto em prol de uma futebolada.
Agora vou ali deprimir um bocadinho, e já venho.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Golden Boy, Golden Girl

Esta semana dei umas palmadas ao miúdo.
Fica mal dizer que lhe dei uma tareia, dado os trágicos acontecimentos das últimas semanas, mas  o que sinto é que foi uma tareia, mesmo.
Porque não estou habituada a distribuir palmadas, e porque lhe dei umas quantas, ante ontem. Não sei quantas foram, não as contei, porque me foram saindo à medida das respostas dele. Mas sei que me ficou a doer a mão, que mesmo os açoites tendo sido no rabo, aquilo é só pele e osso (e músculo, muito músculo, que ele anda sempre a apregoar que está uma beast ).

 Foi mesmo antes de irmos para a cama, e detesto deitar-me chateada com qualquer um deles. Mas deitei-me, mão a arder, respiração ofegante, a sensação, não de ter dado uma tareia, mas de eu própria ter levado uma tareia.
Sonhei a noite toda, que o miúdo tinha o corpo marcado por consequência daquela (talvez) meia dúzia de palmadas que lhe dei. Foi só um sonho, tenho a certeza que as palmadas  me doeram mais a mim do que a ele. Também tenho a certeza que não é com palmadas que as coisas se resolvem, mas também sei que levei algumas e não morri. E verdade seja dita, que ontem acordou mansinho que nem um cordeiro, mesmo que eu saiba que é sol de pouca dura. E sei, tenho a certeza, que este é um longo caminho a percorrer, que o miúdo tem um feitio do pior, raios, que havia de sair à mãezinha dele.

Por conseguinte, a miúda ontem, andou todo o dia a apregoar ironicamente  que a mãe tinha dado uma tareia ao golden boy, e que viu o caso mal parado. Que por pouco, o golden boy ainda tinha de ir parar ao hospital (e imitava as minhas palmadas, como se de festinhas se tivessem tratado). E que ela, nunca na vida, me tinha respondido da forma como o golden boy me responde.

A minha miúda é sempre muito assertiva na forma como analisa as situações à sua volta. Para além de ser pouco emotiva e muito racional.  Mas denoto uma ligeira ponta de ciúmes relativamente ao irmão. Gerir duas adolescências tão distintas, também não é fácil. E já lhe disse que sou a mãe com mais sorte do mundo. Porque não só tenho um golden boy, como tenho a melhor golden girl que algum dia podia imaginar. Fez-me "pfff", em género está bem, abelha. 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Segurar a vela

A propósito do post de ontem e porque vinha no carro com os meus miúdos e as miúdas amigas deles, filhas de um casal amigo meu, e vinha a tentar organizar o fim do meu/nosso dia, porque não tinha ajuda para os transportes, e os meus miúdos tinham compromissos distintos em locais distintos à mesma hora. E no momento cancelámos a explicação da miúda, reagendámos a mesma para outro dia, e eu vinha a dizer-lhes o quão difícil é organizar a agenda de três gatos pingados como nós.
E a minha miúda sai-se com esta:

- Oh mãe tu tens é de arranjar um namorado. Qualquer dia nós saímos de casa, tu ficas velha e só, e isso deve ser muito triste.

E eu ri-me, e o meu miúdo soltou:

-Yá. Mesmo.

E uma das amigas, a mais velha, da idade da minha, disse:

- Que estupidez. A tua mãe não fica sozinha. Tem sempre a minha mãe e o meu pai.

E o meu miúdo rematou:

-Sim. Muito bonito. A segurar a vela eternamente. 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Vida social

A minha vida social, está claramente cada vez mais agitada.
Consigo aperceber-me deste facto não só pelo conta quilómetros do meu carro e consequentemente a quantidade de vezes que visito a bomba de gasolina para abastecer, mas também pelo facto de por vezes ter de calcular ao milímetro o tempo que vou gastar entre um percurso e outro, para poder fazer tudo a seu tempo.
Assim, tenho dividido o tempo entre dois campos de futebol, que o miúdo agora além de treinar no clube da aldeia, também treina num clube lisboeta. Soma quatro treinos por semana, sendo que o de lisboa me obriga a permanecer por mais de duas horas à espera de sua excelência. Mas, se o miúdo tem futebol, a miúda tem dança. O que obriga à sua deslocação também. Ah, e depois têm Cambridge. E em dias e escolas diferentes, por uma questão de logística de cada um deles. E depois ele tem jogos, sábados e domingos de manhã. E ela tem explicações de matemática. E depois têm as idas ao cinema com os amigos e ela tem as saídas ocasionais à noite, e têm os jantares de aniversários, e têm amigos a dormir cá em casa, e têm dormidas em casa de amigos. E eu levo e trago, e recebo e cozinho para um batalhão, e de repente já me baralho com os horários, e de repente hoje não me consigo dividir entre o futebol e a explicação, e alguma coisa vai ter de ser cancelada, e depois disto tudo ainda faço e dou jantar, e são onze da noite quando finalmente me sento no sofá, e penso que a minha vida social está completamente condenada a ser a vida social dos meus filhos. 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Há coisas que não podem ser delegadas

Já houve quem me dissesse que sou uma autêntica fada do lar.
Na verdade, gosto da maioria das tarefas caseiras, embora haja uma que me deixa mesmo lixada. As meias. As putas das meias, que tendem a desaparecer das gavetas enquanto o diabo esfrega um olho (" mãeeeee !! não tenho meias!"). As putas das meias que tendem a desaparecer aos impares e que me questiono seriamente para onde vão parar já que, o molho das desemparelhadas cresce a olhos vistos e ainda no outro dia deitei um saco cheio delas, para o lixo.
Mas, um dia desta semana, quando abri a porta de casa ao ex-rei e ao miúdo, acabados de chegar do treino, estava eu com um alguidar na mão atolado delas (das putas das meias) surgiu-me a ideia. Assim a modos que luminosa. Num ápice passei o testemunho, e larguei o alguidar nas mãos do ex-rei. 

- Vá, tenho uma tarefa para vocês. Enquanto eu acabo o jantar, vocês emparelham estas meias. 

Foi um instante enquanto eles me devolveram o alguidar, cheio de bolas pretas. Fiquei tão contente que enquanto as arrumava nas gavetas, só pensava que esta era uma tarefa que eu já sabia a quem delegar. E que o meu martírio das meias havia chegado ao fim.
Ontem, ao fim do dia, a miúda disse-me :

-Oh mãe, tu importas-te de nunca mais dares as meias ao pai e ao mano para dobrar? É que tu não imaginas. Desembrulhas aquilo, e não há um par certo! E até há meias azuis misturadas com meias pretas!

O miúdo olha para mim com ar de traquina, levanta as duas pernas das calças, e mostra-me, diria mesmo, com orgulho:

-Olha lá como é que eu fui para a escola hoje!

Num pé, uma meia pézinho. No outro uma que lhe tapava meia canela. 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

A Linda porca meteu-me nisto, e só por ser ela, cá vai

Uma pessoa tem dias, e eu tenho andado naqueles dias em que, primeiro : não tenho tido muito tempo para vir aqui. Segundo: não me tem apetecido muito vir aqui. Mas, o desafio foi lançado pela jeitosa da Linda Porca, e vá-se lá saber porquê, que nunca a vi mais gorda (um dia, podia jurar que a tinha visto, num desses centros comerciais suburbanos, mas ela depois afiançou-me que não, e caiu por terra a ideia de já a ter vislumbrado em carne e osso), mas engrancei com ela, desde o primeiro dia em que a li (foi com ela e com a Uva, foi a modos que amor à primeira leitura) e como tal, não a posso deixar ficar mal, que até me senti lisonjeada com tamanho desafio. Por isso cá vai :
A "coisa" consiste em: 

Escrever 11 factos sobre nós próprios.
Responder às perguntas que nos colocaram.
Nomear 11 blogs com menos de 200 seguidores.
Fazer 11 perguntas a esses blogs nomeados.
Colocar a foto do Liebster Award no post e respectiva tag.
Enviar o link do post a quem te nomeou.

Liebster-Award1.jpg
Então, a ver: 11 factos sobre mim:
1- Acordo sempre ligeiramente rabugenta (diz que ligeiramente é quase um elogio, mas eu continuo a achar que é exagero)

2- Tive um crescimento muito tardio, e por isso fui a última das minhas amigas a arranjar namorado, facto que me levou a viver uma adolescência algo complexante (hoje percebo que não me fez falta nenhuma. o namorado).

3- Com o crescimento tardio, mas depois, repentino, houve uma perna, que ainda preguiçosa, se deixou ultrapassar pela outra. Assim, sou mais alta de um lado, do que do outro, cerca de centímetro e meio. Mas não coxeio, e por isso, este é um defeito de fabrico que até passa despercebido.

4- Sei que isto é um cliché, mas a minha grande obra prima, são mesmo as minhas crias. São os dois do mais bonito que há. Tão bonitos que até dói. Mesmo que ao cliché alguém possa acrescentar  o provérbio de quem feio ama, bonito lhe parece. Mas é que os miúdos são mesmo bonitos. E acima de tudo, por fora e por dentro (foi cliché do princípio ao fim). 

5- Sou loira, mas não sou burra. Embora às vezes possa parecer que sou. Mas como sou uma loira falsa, quando sou burra, também sou uma burra falsa. Ou não. 

6- Não sou surda, mas tenho um ouvido estrábico. Facto que me leva muitas vezes a parecer surda. Mas não sou. Tenho é tendência para ouvir os sons do lado contrário de onde eles são emitidos. Do género: alguém me chama uns metros à esquerda, e eu olho imediatamente para a direita. E a pior cena que me aconteceu à conta deste meu (outro) defeito, foi uma manhã, em que enverguei umas lindas calças de pele, e o raio das calças faziam um som tipo saco de plástico conforme eu me ia mexendo (e não eram de plástico, eram mesmo de pele, ou então fui enganada, porque ao preço que custaram, até deviam ter costuras de ouro). Vai daí, de cada vez que dava um passo, olhava para trás. Eu estava sozinha em casa. E havia algo a perseguir-me. E era um saco de plástico. Eu podia jurar que estava a ser perseguida por um saco de plástico. Foram momentos de terror que não desejo a ninguém.

7- Aos vinte e tal anos, altura em que já tinha idade para ter juízo, furei o umbigo. Aos trinta e sete, achei que já não tinha idade para piercings e tirei-o. Três dias depois, e antes que o buraco se fechasse para todo o sempre, a minha filha disse-me que a minha barriga já não parecia a minha. E pediu-me que o pusesse de novo. E eu, que sentia exactamente o mesmo, caguei na idade e hoje, aos quarenta, ostento um belo piercing umbilical. E só o tiro no dia que vir que já não tenho uma barriga digna de o usar (a comer assim, deve estar para breve). Constatei também, que a minha filha teve um rasgo inteligente, porque uma mãe com um piercing, não tem moral para negar um à filha ( a sorte é que só tenho um. e que nunca me deu para a maluqueira das tatoos).

8- Esta porra dos 11 factos sobre mim, está a ficar um bocado comprida. Vou abreviar. Assim com´á assim, não interessa nada.
Gosto de comer. Petiscos, todos. Desde o pezinho de coentrada, aos caracois (tanto, tanto). Ah, e adoro uma bela sandocha de coirato. Com pêlo e tudo. 

9- Sou boa rapariga, ou pelo menos, gosto de pensar que sim. Ou pelo menos, acho que sim. Também sei ser cabra quando me pisam os calos. Mas isso raramente acontece, se calhar porque, dizem-me, sou muito boazinha e gosto de ver toda a gente na paz (de Cristo).


10- Já tive muitos sonhos, concretizei a maioria deles. Um dia acordei num pesadelo, e desde então desaprendi de sonhar.

11- Já chega, não?

Ufa, Linda Porca, que isto cansa. Vou responder às tuas perguntas. Só mesmo porque foste tu. Bolas. Vá, bora lá a isto:

1- Como é que vieste aqui parar?
Olha, nunca fui de andar em blogues, nem de navegar muito por essa internet (a)fora. Mas tinha duas pessoas amigas com quem trocava muitas mensagens e emails, e às vezes tínhamos conversas tão parvas que elas diziam-me insistentemente que eu devia ter um blogue. Nunca pensei muito nisso, até porque não acho que escreva ao nível de muitos dos que sigo, mas um dia, olha, apeteceu-me. O nome foi escolhido pelas razões que lá descrevo (porque sempre contei muitas histórias aos miúdos, onde incluía sempre uma rainha e os seus príncipes, que éramos nós, em género "era uma vez uma rainha que tinha uma princesa e um príncipe, que não gostavam de sopa... e era sempre um castigo para comerem sopa. Até que foram ficando muito magrinhos, com falta de vitaminas, e blá blá...". Havia sempre um ensinamento inerente. No caso da sopa, confesso que a rainha não ganhou a batalha e ainda hoje, mas de outra forma, sem rainhas e fadas e castelos, me oiço a berrar nas vitaminas e na falta delas, e no raio da sopa que estrabucham para comer.  Noutros casos até acho que foi pedagógico e que serviu para alguma coisa). E pronto, criei a Rainha e a Ervilha, sem grandes floreados, que eu não tenho paciência nenhuma para me aventurar nas artes informáticas, e quando não tenho paciência, funciono à lei do menor esforço. 

2- Onde é que achas que isto vai dar?
Achei que o blogue iria servir um dia, em género de diário, para os meus miúdos virem ler as parvoíces que escrevo deles. Talvez nunca me venham a perdoar, mas olha, se calhar um dia acabo com isto, e esfumam-se as palavras e as letras que vou creditando aqui, e que na verdade, também não interessam nada. Esse, acho que é o futuro mais plausível. 

3- Diz-me como te relacionas com a bicharada.
Qual bicharada? A minha? Tenho um cão, se é essa a categoria de bichos a que te referes. Relaciono-me de uma forma muito formal. Não lhe pego, não lhe dou beijos, não o deixo lamber-me. Isso são afectos que os miúdos lhe dão e de sobra. Às vezes a ponto de me deixarem com ciúmes. O meu miúdo por exemplo, não me dá beijos, não me abraça, e no entanto até beija o cão na boca. Também lhe dou uns gritos (ao cão), quando ele me prega uma mijadela nos cortinados do meu quarto. Uns gritos e uma palmada no lombo. Tento não ser muito bruta, não vá matar o bicho, que é uma amostra de cão (valha-me isso, que o xixi é ao nível do tamanho dele).
Se falas de outra bicharada, olha, tenho tendência a dar-me bem com toda a espécie. Sou boazinha. Já tinha dito, não já?

4- Diz-me o que é que tens à cabeceira.
Queres ver? 
Ao estilo minimalista (que é tudo, menos o estilo da minha casa), tenho apenas a iluminação e aquela bela peça decorativa azul. Se quiseres copiar o estilo, estás à vontade. Chama-se ventilan, e vende-se em qualquer farmácia perto de si (para mais informações, consulte o seu médico ou farmacêutico, ou a rainha).

5- Qual foi o momento mais idiota da tua vida?
Talvez aquele em que entrei no velório errado. E não via ninguém conhecido e todas as cabeças voltadas para mim, e eu a pensar a quem dirigir os sentimentos, e de mansinho, pé ante pé me abeirei da urna e percebi a gaffe. E de mansinho, pé ante pé, mas à retaguarda, dei de frosques.

6- Qual a tua técnica preferida para sair de cena?
Sou péssima nisso. Mesmo. Uma dificuldade atroz. Em jeito de "boazinha" , o problema sou eu, não és tu . Mas nem sempre resulta, porque não o faço à bruta. Então, vou-me afastando lentamente, muito lentamente, até que... saio de cena de vez.

7-Quando precisas mesmo de ter tomates para enfrentar uma sit, o que é que fazes?
Arranjo os tomates e enfrento. Sem pensar muito na questão. 

8- Tens mesmo que desligar uma chamada de telemóvel, mas a outra pessoa, com quem não tens intimidade nenhuma, não se cala. Agora conta lá.
Tão fácil. A questão da rede funciona sempre. E depois desliga-se o telefone cerca de dez minutos para o caso da dita pessoa voltar a ligar, a cena da rede parecer credível. Também tenho outra técnica, se estiver em casa, faço sinal a um dos meus miúdos para me chamar. Assim, em altos berros mesmo : "mãeeeeee". Se a pessoa não se tocar, sou obrigada a dizer que tenho um filho em aflição. Ninguém resiste a um filho em aflição.

9-Estás aflitinho/a para cagar em plena primeira vez com alguém. Agora desemerda-te.
Isso jamais me aconteceria. A não ser que fosse desarranjo intestinal. Uma diarreia gigante, mesmo. É que eu não cago em qualquer lado. Tem de ser na minha sanita, em silêncio e ninguém pode falar comigo sob pena de o dito voltar para trás. E quando estou fora do meu ambiente o meu intestino (que é esperto, o gajo), sabe logo. Então, tímido na quinta casa, retrai-se. E chego a estar dias sem cagar. Uma tragédia, porque como sou boa boca, parar de comer está fora de questão. Então, conforme os dias vão aumentando, a barriga cresce a olhos vistos. Ora barriga de três meses, ora de quatro, e quando cresce ao nível dos cinco, estou prestes a largar merda pelas orelhas. 

10 - Vai um touro a correr atrás de ti escadas acima. O que é que fazes?
Os touros sobem escadas? Não me parece...

11 - Conta-nos tudo, não nos escondas nada. A mim dá-me miminhos, mas graxa não, a menos que seja azul.
Agora assim de repente, e depois de ter revelado o meu trauma intestinal no que à cagança diz respeito, não me ocorre mais nada.
Miminhos, já levaste a tua dose no início desta conversa toda.
Já chega.

Agora, correndo o risco de estar a nomear alguém repetido, cá vai. É que tenho tido pouco tempo e pouca paciência (já disse), e tenho andado ausente e pronto. 
Ah, e pelas razões atrás descritas e mesmo parecendo (sendo) pouco criativo, as questões colocadas podem ser as mesmas da Porquita Linda. 
Os nomeados então:
P




segunda-feira, 6 de abril de 2015

Diferenças entre a infância e a adolescência

Diferenças, há muitas. 
Mas esta, está a sair-me cara.

Na infância do meu miúdo (que eu juro, foi há uns dias atrás):

-Miúdo, vai tomar banho!
- Oh mãe... mas porquê? ainda ontem tomei!

Na adolescência do meu miúdo:

- Mas vais tomar banho outra vez? Mas tu agora tomas dois banhos por dia?
- Sim, estou a sentir-me sujo... (que é a tradução para: " tenho de ajeitar o cabelo")




quinta-feira, 2 de abril de 2015

Sobremesa

De quando em vez, encontro, nos sítios mais inusitados, uma unha. 
Em cima da playstation, colada ao ecrã da televisão, num cantinho da mesa de centro da sala, dentro da lombada de um livro...
No outro dia resolvi perguntar. 

- Mas porque raio é que eu encontro unhas escondidas pela casa fora?

Resposta do miúdo:

-Ah, isso sou eu que guardo, quando tu me chamas para jantar, para o caso de me apetecer a seguir.

(em género de sobremesa, concluo)



E a avaliar o estado destes dedos, percebe-se o porquê de ter de fazer reservas...

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Página falsa

A minha relação com o facebook foi sempre algo distante. Nunca criámos uma amizade profunda, nem partilhei com ele grandes intimidades. Nunca lhe mostrei fotos das iguarias que ingiro diariamente (ninguém ia gostar de ver a quantidade de pacotes bolachas que são comidos à noite, no sofá), nem lhe mostrei os pés enterrados na areia do algarve, nem os jarros de sangria por essas esplanadas fora. Não. A nossa relação até teve por base conseguir controlar a conta dos meus filhos. Mas a verdade, é que não controlamos nada. Por muitos conselhos e regras que coloquemos, não há forma de controle total. Porque as fotos de capa são sempre públicas, porque os amigos se multiplicam, mesmo que só se conheçam de vista. 
Mas, os miúdos também foram crescendo, e a sangria desatada de ir a toda a hora ao facebook, foi substituída pela sangria desatada do instagram. Vai daí, a minha relação com o facebook ficou mais distante ainda.
Foi ontem, que através de um amigo da minha miúda,  descobri existir uma página falsa, com fotos dela, e o mesmo nome. As fotos, todas as que ela tinha usado como capa. 
Abri uma a uma, e constatei a popularidade desta miúda, que é a minha, mas não é a minha. Milhares de likes em todas as fotos, contra as poucas centenas da miúda que é a minha, a original. 
Dezenas de comentários, todos tão abonatórios, relativamente à sua beleza  e aos seus olhos  e outros tantos de revolver as entranhas a uma mãe (que lhe faziam e lhe aconteciam?), que vê exposta a sua miúda, nas mãos de uma outra miúda (falsa). 

A situação resolvi em três minutos apenas. Denunciei, e num ápice a página foi eliminada. E aqui, dou a mão à palmatória. Os gajos do face, foram rápidos e eficientes (com tamanha rapidez, julgo que nem tiveram tempo de averiguar, como me disseram que iam fazer. Deram o acto como consumado, e ponto. Finito. A miúda falsa, e os seus milhares de likes, esfumaram-se). 

O amigo da minha miúda, que descobriu a página falsa, disse apenas que a conclusão a que chegava era que a outra devia ser feia.
A minha miúda, apagou as fotos de capa (que eram públicas), disse que já nem ligava muito ao face, e como tal, assunto encerrado.
Eu acho que embora avisemos constantemente dos perigos, eles não têm noção real.