quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Rotinas

Há duas semanas sentia que estávamos todos a precisar de rotinas. De horários.
De regras. De assentar.
Hoje acordo na ressaca destas rotinas, destes horários, e a calcular os dias para as próximas férias. As manhãs são sofridas na hora do despertar, e todos nos mexemos ao ritmo de cada um.
A miúda levanta-se rápido, enfia um fato treino e faz o passeio matinal de meia hora com o cão. Olho para ela com orgulho. Não consigo mover-me com esta rapidez nos primeiros quinze minutos pós me encontrar na horizontal.
Arrasto os pés até à cozinha, preparo lanches, almoço para o miúdo (que ela, crescida está, e almoça fora, isentando-me de mais uma marmita), arrumo tudo, porque odeio o regresso com as tarefas acumuladas, e olho para o relógio. É sempre mais tarde do que devia. Acordo o miúdo. Sei o quão parecido comigo é. Senta-se na cama, e ali fica cinco minutos. A mentalização, para mais um dia.
Veste-se rápido, muito mais rápido do que eu ou a irmã. Toma o pequeno almoço. E no fim, a faltarem cinco minutos para sair de casa, encontramo-nos todos no mesmo local. A minha casa de banho. Ainda não consegui descobrir o porquê do fenómeno, já que temos três. Mas é ali que discutimos quem chegou primeiro, quem ocupa o lugar da esquerda, quem ocupa o da direita, quem se penteia atrás dos outros dois que lavam os dentes á pressa, espreitando por uma nesga do espelho.
E é dali que saímos todos em passo de corrida, em direção à porta da rua, e a mais um dia, e à rotina, e aos horários.
 
 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Desafio

Parece que (eu tenho andado um bocado ausente, e desconhecia) anda a passar um desafio de blogue em blogue, para o qual fui desafiada pela autora do "coisas dos intas" (obrigada, obrigada, obrigada - seguido de vénia, pois então).
Consiste em responder a algumas questões (e nomear outros cinco bloguers a responder às mesmas). Pois bem, vamos a isso. Mais fácil que um balde de água fria (que eu não faria, mas o donativo daria), e a fazer-me recordar os tempos de escola, em que passava um caderninho com perguntas deste género, para todos responderem.
 
Assim:
 
1- O que você  não sai de casa sem
a mala cheia de tralhas: dois telemóveis, duas carteiras , chaves, a caixinha com o terço, óculos de sol, caixas de pastilhas (umas duas ou três vazias), lenços de papel (na sua maioria usados, amarrotados, mas prontos a reusar em caso de alergia súbita, a bomba da asma e os cigarros (completamente antagónico e estupido, eu sei). Ah, e a chave do carro, na mão. Acho que é isto.
 
2- Animal favorito
O meu. O cão. O cão que me foi "vendido" como o único (a raça) a não a cheirar a cão. Inocente, eu. Cheira que tresanda. Mas eu gosto dele, ainda assim.
 
3- Sapatos favoritos 
Aqueles que me fazem sofrer. Os que magoam. Os que se enfiam na calçada, tentando pregar-me partidas (até hoje sem efeito), mas que vão dando trabalho aos sapateiros (vá, umas capas novas). Os que me fazem chegar quase ao metro e setenta, apesar de ao fim de um dia já lhes rogar pragas. Masoquista, eu. Mas são esses. Os (muito) altos.
 
 4- Produto de maquilhagem indispensável
No verão, hidratante e lápis de olhos. No inverno, lápis de olhos, hidratante, base, pó. Saltos altos e cara de quem morreu há três dias, não combina.
 
5- Maior sonho
Aquelas coisas comuns à maioria dos mortais: saúde, paz (no mundo), amor... (bolas, qual comum dos mortais qual quê!... uma Miss! agora senti-me uma Miss! faltavam-me  a porra dos dez centímetros...)
Ah, e que os meus filhos sejam felizes. Muito.
 
6- Maior defeito
Além da estupidez, da inocência, do masoquismo, e de ser um bocado meia léca, já referido nos pontos anteriores?
Teimosa. Teimosa com'ó raio. Mas um teimoso nunca teima sozinho, é o que vale. O que me leva a crer que é um defeito banal. De pouca importância, vá.
 
7- O que me irrita nas pessoas
Teimosia. Bolas pá, não se vê logo quem é que tem razão? (há outras coisas que me irritam mais, mas esta dá luta)
 
8- Comida favorita
Tenho muitas. E engordam todas. O que é uma grandessíssima treta (embora eu não deixe de comer)
 
9- Doce ou salgado
Depende da hora do dia. Se eu estiver com muita fome então, marcha tudo!
 
10- O que te deixa feliz
Muitas vezes, ver os outros felizes (os meus filhos principalmente) - e esta foi sentida.
 
11- Escolher cinco blogues para este desafio:
Como já disse, tenho andado um bocado ausente, por isso não sei se vou "nomear" alguém que já foi "nomeado" (bolas, que esta palavra está mesmo na moda). E caso não o queiram fazer, oh pá, não fico nadinha melindrada! Aqui vai:
 
Uvinha  (Uva Passa) bora lá. Agora até estás com uma imagem mais sofisticada, lança-te aí nas respostas!
Linda Porca , não queres chafurdar um bocado?
Ovelha Negra , tu ainda agora vieste de férias, estás fresca pra isto!
AC , nada, de coisa nenhuma ? Conta lá isto!
Maria(tu) eu sei que isto pode não ser a tua onda, mas inevitavelmente, lembrei-me de ti!
 
Desafio aceite, cumprido.
Inté!
 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Nova etapa

 
 
Uma nova etapa.
Inicio do ano escolar. Mudança de ciclo para os dois. Ele no terceiro, ela no secundário meu Deus, como é que o tempo passou assim tão rápido ? . Quando o despertador tocou tentei pensar no dia em que vou poder acordar sem aquele toque irritante. E depois concluí : não vou. O miúdo a jogar futebol em dois escalões (este ano deu-lhe para isto - a ele e ao "mister"), vamos ter jogos matinais (muito matinais), sábados e domingos.
O dia amanheceu cinzento, para nos fazer lembrar que vai ser assim, nos próximos meses, muito embora ainda seja verão. Os miúdos não saíram de casa com a excitação de outrora, nos primeiros dias de aulas. Arrastaram os pés, com pouca vontade, e eu pensei se seria um bom prenúncio para uma nova etapa como esta.
Fui busca-los cedo, ansiosa por saber como tinha corrido. Estavam os dois de poucas palavras. Puxei a saca rolhas. "Qual foi a melhor parte do dia?" perguntei. "Esta. Em que nos vieste buscar", disse-me ela.
Decidimos ir comprar o material escolar. Afinal, esta malta ainda não entrou foi no ritmo, pensei. Os outros trezentos pais que estavam na Staples, devem ter pensado o mesmo que eu. O ar condicionado não estava a funcionar, e apesar da chuva, lá dentro era verão. Um verão tropical, abafado e húmido. Comecei a desesperar e ordenei que escolhessem tudo rápido. Péssima ideia, concluí ,na hora de pagar.  O miúdo até se deu ao luxo de escolher um conjunto de esferográficas que custaram dez euros. Dez euros para perder na primeira semana. Mas são de gel. Um espetáculo de canetas, informou-me.
Reclamei a conta, falei da responsabilidade, das prioridades, do empenho esperado.
Até chegarmos a casa, atropelaram-se a contar-me todos os pormenores do primeiro dia de aulas. De seguida, e sem que lhes tivesse pedido, arrumaram todo o material, identificaram cadernos, prepararam mochila.
Temos atitude, pensei. Venham os frutos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Quantos anos, ainda?

 
 
Cabe-me a tarefa de levar a filha e as amigas à "vogue fashion night out".
No ano anterior estive lá. Com elas. Gosto mais do que devia de moda, de roupas, de sapatos, de malas. Mas não nessa noite. Mas as miúdas acham piada e comprometo-me a acompanha-las, mais uma vez.
Sim, eu vou convosco, confirmo. "mas vais lá ficar sozinha, mãe? é melhor arranjares uma companhia" diz-me ela, com um piscar de olho. Percebo. Cabe-me a tarefa de taxista mais uma vez. Percebo o piscar de olho, e arranjo programa.
As recomendações do costume. As minhas. As das mães das amigas. A ultima recomendação "tracem as malas. Estejam atentas aos telemóveis".
Sigo para o meu jantar. Mas sigo preocupada. Ligo só para confirmar que está tudo bem. Não me atendem. Nenhuma, das três. Mastigo o bife com dificuldade. Sei que não sou muito descontraída no que diz respeito às saídas da(s) miúda(s), mas não consigo ser de outra forma. Talvez com o tempo me habitue não acredito. Não me retornam as chamadas, e tento de novo insistentemente.
Atendem-me com uma boa disposição estonteante, e descarrego a fúria e os nervos, percebendo de imediato que nenhuma delas entende, "não há motivos para preocupação".
Vou busca-las à hora combinada, meia hora mais cedo do que o solicitado. Nervosas. Uma delas tinha perdido a carteira. Embora não soubesse como. Não mexeu na mala, não precisou da carteira. "foste assaltada", digo-lhe. "impossível", diz-me ela.
Converso com um policia, aconselha-me a fazer queixa de imediato. A miúda tinha todos os documentos na carteira. Pergunto se não sendo a mãe da lesada, posso apresentar queixa. Diz-me que sim. Procuro a esquadra. Penso que só lhes faz bem acompanhar-me no processo, para que percebam alguns dos motivos de preocupação. Na esquadra dizem-me que não posso apresentar queixa. Não sou a mãe entendam-se, penso furibunda. Mas conto o sucedido. Ela insiste que não foi assaltada. O policia ri-se. Conta-lhes umas histórias, e termina o relato com "isto é um abre olhos".
Pela manhã, acordamos com a noticia do aparecimento de todos os documentos numa estação de comboios. Podemos ir recolhe-los à esquadra. Dá-me vontade de lhes bater quando as oiço presumir que "a carteira deve ter caído da mala, algures". Dou um grito. Pergunto se por acaso andaram de comboio. Assim como as outras dez pessoas que também têm documentos para recolher na mesma esquadra, já que foram  encontrados todos juntos, na mesma estação. Sem as carteiras. E sem o dinheiro, pois claro.
Quantos anos de adolescência ainda pela frente?

O que assenta na pele

"Esta semana não podemos jantar com o teu suposto amigo, mãe", diz-me ela, a filha, e faz o sinal de aspas, com as mãos, quando diz suposto amigo.
"Tenho as noites todas ocupadas, e esta é a ultima semana de férias". Pois claro, penso eu, as noites todas desta semana, assim como foi todo o verão. Digo-lhe que não há problema, nem pressa, e não há. Afinal a adolescente é ela, embora ultimamente tema que me olhem como tal.
Sinto-me como que a pisar um chão que não é bem o meu, sinto-me no papel invertido e na insegurança da aprovação. Um conjunto de sentimentos que  parece que não me assentam na pele, misturados com tantos outros que me assentam tão bem.
Ainda não é esta semana, penso. E respiro fundo.