sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Levas uma chapada que até andas de lado!

Ontem quando fui buscar os miúdos à escola, estava a chover. Aquela chuvinha apelidada de "chuva molha parvos".
Ora eu, que não sou parva (pelo menos a maioria das vezes), e que até ia munida de dois (dois!) chapéus de chuva, saí do carro, para ir em busca das crianças,  qual mãe preocupada e galinha, e trazer os seus pintos resguardados dos chuviscos.
A princesa agradeceu, que tinha lavado o cabelo de manhã, e vive já os dramas da humidade-estraga- cabelo-pranchado (ainda por cima dizem que a prancha também estraga o cabelo mas que fica bom ar, lá isso fica). O príncipe ignorou a minha solicitude, e correu em direção ao carro, à chuva, a rir, e a gritar que (assim com'á assim) já estava todo encharcadinho (do pé d'água que tinha caído antes deste chuvisco molha parvos).
Eu comecei a barafustar "príncipe, tu importas-te de não ir à chuva se faz favor???" (pronto, não lhe chamo príncipe, como devem calcular, que isto do reino era mais nas histórias à noite, quando eles eram ainda pequenos, e eu raramente barafustava, - acho - chamo-o mesmo pelo nome, que não me apetece escarrapachar aqui).
E ele riu-se, com gozo, (com gozo, mesmo nitidamente a gozar comigo), e disse :
Se não, dás-me uma chapada que até ando de lado?
Mas disse aquilo tão alto, que eu pensei que se alguém ouvisse ainda pensava que eu ando à bofetada aos miúdos por dá cá aquela palha (que não ando, embora às vezes devesse andar). E logo a seguir saiu-se com outra pérola (de novo, num volume bastante elevado),
Ou então como diz o pai. Dou-te uma lamparina que te colo à parede e até te mijas todo!
E riu-se ainda mais alto (a irmã gargalhava), porque sabia que me estava a desafiar ao máximo. Rezei para que ninguém tivesse ouvido, não só porque nos dias que correm ainda corremos o risco de ser visitados pela segurança social sob suspeita de maus tratos, mas também pelo teor da frase em si.
Primeiro: dou-te uma chapada que até andas de lado, não me parece de todo uma frase que eu use assim recorrentemente. Ou então, se calhar uso, e já nem dou conta (vou estar atenta). Segundo: o pai viveu connosco até há 14 meses atrás. Pelo menos, na minha presença nunca me lembro do até te mijas todo. Da lamparina ( quem é que se lembrou de inventar lamparina para apelidar uma chapada?)- que até te colo à parede, tenho ideia. Da parte do mijas, não. Até porque eu teria repreendido. Porque se há palavras que acho feias, essa é uma das que está no topo (talvez logo a seguir a cagalhão). E por essa razão, por saber que condeno o uso da expressão, o miúdo resolveu abusar (ao máximo) e testar a minha paciência e benevolência. Por isso, e por isto serem só e apenas, ameaças. Aposto que se eu de vez em quando lhe desse uma chapada que até andava de lado (e garanto, não era preciso muito, que aos 11 anos, ainda não chegou aos 30 kg), ou o pai lhe desse uma lamparina (lamparina???) que o colasse à parede, e o fizesse verter águas (esta expressão é muito mais bonita, e soft), ele não brincava com isto. Ai não brincava, não.   

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