quarta-feira, 19 de março de 2014

Laços de sangue, Laços de amor

Hoje é dia do pai.
O meu filho perguntou-me ontem (quase em jeito de afirmação) "tu não amas o teu pai, pois não?". Estive alguns segundos para lhe conseguir responder, e depois acabei por lhe dizer que não o amo da mesma forma que ele ama o dele, porque o meu pai também não me ama da mesma forma que o pai deles os ama a eles. Há muitas formas de amor, e na verdade não sei de que forma amo o meu pai. Um pai que nunca foi pai na verdadeira aceção da palavra, mas que não deixa de ser o meu pai. Um pai que não vejo, e com quem falo (quase sempre por iniciativa minha) uma ou duas vezes por ano. Um pai que nunca foi avô, e que viu o neto pela segunda vez quando este tinha sete anos e demonstrou curiosidade aliada a alguma tristeza, pelo facto de ter preenchido a sua arvore genealógica  na escola, e não se lembrar do nome do avô materno, porque não o conhecia. Promovi esse encontro, não deixando de lhes dizer que o facto de verem o avô não significava que o iriam ver muitas vezes a partir desse dia. E assim foi.
Eles sabem que têm um avô, e o avô sabe que tem três netos.
Não há laços que os una, a não ser o laço de sangue.  
Eu sei que tenho um pai, e ele sabe que tem duas filhas.
Não há muitos laços que nos unam, a não ser o laço de sangue.
Não vivo atormentada com esta inexistência de relação paterna, não guardo rancores. Guardo alguma mágoa pelos meus filhos porque gostaria de lhes ter dado um verdadeiro avô. Ele que nunca foi um verdadeiro pai, e que também não conseguiu (nem consegue) ser um verdadeiro avô. Guardo comigo a certeza de que há diversas formas de amar, e de que de alguma forma amo o meu pai, embora não guarde essa certeza relativamente ao amor inverso.
Hoje é dia do pai. É o dia do pai dos meus filhos. Ele sim, um pai (com laços de sangue, e laços de muito amor).

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