sexta-feira, 11 de abril de 2014

Uma volta no carrossel do pintas.

Atrasada para almoçar com uma amiga, decidi deixar o carro à porta, e apanhar um táxi. Seria mais rápido, mais cómodo, e até talvez mais barato (a avaliar pelo preço dos parques de estacionamento da zona para onde ia). Ainda nem tinha posto a segunda perna dentro do habitáculo, nem tinha ainda dito boa tarde quero ir para, já o senhor dizia ora entre, que isto hoje está um belo dia de sol. Ora entre, não era a forma mais comum de brindar um cliente à entrada no táxi, já o está um belo dia de sol, pareceu-me uma frase mais que comum, dadas as circunstancias e decidi não me baldar dali para fora. Talvez aquela frase não quisesse parecer aquilo que me tinha parecido, em género, ora entre , está um belo dia de sol para uma volta aqui no carrossel do pintas. Digo boa tarde, quero ir ali para a praça do comércio. Senhor taxista, responde para o terreiro do paço? está um belo dia para almoçar à beira rio. sabe que há milhares de anos atrás, os primeiros habitantes de lisboa tinham muito peixe ali no rio. agora já só há camarão mas deve ser camarão doente. Ali em Cacilhas já os vi a apanhar muito camarão. e depois devem vende-lo aí em restaurantes e uma pessoa nem sabe o que é que está a comer. Penso que uma pessoa anda sempre a aprender. Ele emenda quando digo praça do comercio, numa clara alusão a que aquilo é o terreiro do paço. A mim tanto me faz. Ainda este período o miúdo fez um teste de história sobre o tema, e tenho portanto ainda presente que depois do terramoto se passou a chamar praça do comercio. E tenho presente também que a miúda numa escala mais avançada, também fez um teste sobre a mesma matéria, e até lhe saiu a pergunta do porquê do nome. E o que era suposto ser uma resposta de desenvolvimento, ela respondeu "porque tinha muitos comerciantes", assim, nu e cru, o que lhe valeu um zero na resposta, e um belo dum satisfaz na nota. Portanto, esta estória da historia está fresca que nem uma alface na minha memória, mas como dizia, tanto me faz uma coisa ou outra. O que eu não sabia é que em Cacilhas há camarão, e que até  posso já ter comido o belo, aí num restaurante qualquer. É que a ideia não me agrada. Mas, não tenho tempo para pensar muito nisto, porque enquanto finjo estar distraída a mexer no telemóvel, senhor taxista continua a sua lição do dia (ou uma das muitas). isto hoje está um belo dia, é para ir almoçar à beira mar. ali em carcavelos deve estar ao rubro. hoje devem ser só surfistas. é só miúdos. que eles vão com o bom ou o mau tempo. baldam-se às aulas e as mãezinhas pensam que eles estão na escola e eles andam a surfar. às vezes paro lá para comer um gelado e é vê-los ali todos contentes, e os paizinhos a trabalhar descansados. Penso nos meus filhos, e se algum dia estarei a trabalhar descansada, enquanto eles vagueiam nas ondas do mar (ou noutras ondas quaisquer). Mas não tenho muito tempo para pensar nisto, porque enquanto continuo a fingir mexer no telemovel, senhor taxista continua, quase sem respirar. olha, olha, este gajo do autocarro nem olhou, viu? isto agora com as novas leis é uma rebaldaria. agora sabe que se um autocarro estiver a sair da paragem a senhora é obrigada a dar passagem? mas eu também sou um transporte publico. atão como é que isso fica? é como os ciclistas. antes tinham de andar em fila indiana, uns atrás dos outros, agora podem andar todos aos magotes no meio da estrada, que um gajo tem de ir atrás deles.Penso nestas novas leis a que senhor taxista se refere, penso que todos os dias na zona onde vivo ando atrás destes magotes de ciclistas, mas não tenho muito tempo para pensar no assunto, porque está um belo dia, e senhor taxista não se cansa de o dizer mas bom, bom, deve estar na costa da caparica. aí é que deve estar uma categoria. o ano passado ia lá sempre. à tarde. sentava-me a comer um gelado, um magnum, sabe? o ano passado havia um magnum que era o beijo apaixonado. bem, aquilo, escorregava memo bem. eu esgotei-os todos. aquilo era uma daquelas edições limitadas, sabe? esgotei com aquilo. comia todos os dias. é que escorregava memo bem o beijo apaixonado. Olho para estrada. Vejo que estamos quase a chegar à praça do comércio barra terreiro do paço, e por isso não vale a pena mandar para-lo antes do tempo, e qual beijo apaixonado, escorregar dali para fora. 

4 comentários:

  1. Como diria o Tintin "Les aventures d'une reine sur: Comment sortir d'un taxi sans perdre votre sang-froid" :)

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  2. sang-froid ou sang-chaud, que a coisa já começava a ferver...

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  3. Mto bom!! As pessoas como este taxista, entram pelos ouvidos a dentro sem se calarem ou ponderar sequer se estamos interessados na sua veborreia...horrível!!!

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