domingo, 27 de abril de 2014

Sabes que estás a ficar mais velha IV



Sabes que estás a ficar mais velha, quando a tua filha que está prestes a fazer quinze anos te pede para fazer a festa num bar. À noite. E tu, que até tinhas pensado, que este ano era um descanso, porque se acabaram as festas em locais alugados, e que essa coisa dos convites de fadas, mágicos, palhaços, caças ao tesouro e afins, estão já tão distantes, e que esta nova moda que chegou já a esta faixa etária, de um jantar num restaurante e cada um paga o seu, seria o que ela iria fazer, e que sim, iria ser um descanso. A todos os níveis. Pois. Prestes a fazer quinze anos a miúda quer ir a um bar. Um bar que não conhece, nem ela, nem eu, mas  que toda a gente (do seu universo) conhece. Toda a gente, ouviste bem, mãe?
Pois, a mãe ouviu bem, apesar de toda a gente (do meu universo) continuar a dizer que tenho o meu quê de surda, a mãe até percebe que essa toda a gente a que ela se refere, são apenas meia duzia de amigos daquele circulo dos muitos, e que a febre do sair à noite está tão latente em todos eles, que anseiam pelo primeiro que faça uma festa num destes locais (sim, porque um jantar já é uma seca, e sempre a mesma coisa), para apanhar a boleia.
Pois a boleia da minha, já se ficou pelo caminho. Um bar, é coisa para mais de dezasseis. E cada coisa a seu tempo. 
Sabes que estás a ficar mais velha, quando negas um destes pedidos, mas cedes pela segunda vez ao pedido para ir a um chá dançante. Uma festa que me foi "vendida" da primeira vez, como sendo adequada à idade deles, pois tem restrições de entrada. De um lado as pulseiras para menores de catorze. Do outro lado as pulseiras para dezasseis. Cedes pela segunda vez, sabendo que da primeira, as meninas entraram com pulseiras de dezasseis. Mas cedes. Porque não podes negar tudo. E porque um chá dançante, ainda não é propriamente um bar (ou é?). 
Sabes que estás a ficar mais velha, quando hoje de manhã, finges ser a mãe cool, ligas à filha, perguntas se correu bem a festa, com que pulseira entrou, e o que bebeu. E engoles novamente em seco, quando a tua filha te diz com uma gargalhada tímida que entraram todos com pulseira de dezasseis, que deu um gole numa cerveja mas que não gostou, que se portaram todos bem, que havia rapazes bem giros, e que agora está a estudar.
E sentes que estás a ficar mais velha, porque te fartas de fazer advertências  para os perigos, e te fartas de ter conversas sobre o que não se deve fazer, e sabes que os perigos estão todos aí, à sua volta, e a tua filha está mesmo a entrar na idade perigosa. E sabes que estás a ficar mais velha, porque ainda te parece que foi ontem que a tua mãe te disse o mesmo, e te proibiu de tanta coisa, e tu tens medo de não estar à altura deste papel tão difícil, e tens receio de falhar, e de não saber se estás a agir corretamente ou não.
Sabes que estás a ficar mais velha, quando pensas que afinal, descanso eram de facto as festas em sítios alugados, com convites de fadas, mágicos, palhaços, caças ao tesouro e afins. 


4 comentários:

  1. O tempo é um cavalo com asas... aguenta coração.

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  2. Estou a aguentar... estoicamente (?)... Um beijinho !

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  3. E, ao mesmo tempo, sentes "aquela" ternura!!:)))

    Beijinhos Marianos, Ervilha-galinha!

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    1. Pois sinto! deve ser a ternura dos quarenta quase aí a chegar :))))

      Beijinhos Maria Tu!

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