segunda-feira, 16 de março de 2015

Raios partam os gatunos que nos roubaram a água.

Domingo à noite fazemos os três a nossa sessão de cinema. Depois da discórdia habitual em relação à escolha do filme, lá chegamos a consenso, dividimos sofá, mantas, e conforme a disponibilidade na despensa, chocolates, pipocas ou batatas fritas. Ontem só havia chocolate. Uma tablete tamanho XL, chocolate de leite com amêndoas. A meio do filme, e a meio do chocolate, já eu, que sou um cu de sono, fazia um esforço atroz para manter as pestanas abertas, discutíamos quem se levantava para ir buscar água. Ninguém foi preguiçosos na quinta casa . Adormeci muito antes de ver o fim da história, e foi a miúda quem me acordou "mãe, não há água". Não há água, como? pergunto, já com aquele meu humor de quem acabou de acordar. "não há água na torneira". Que raios, penso, meio adormecida, e a cambalear em direcção à cozinha, com a boca pastosa de tanto chocolate. Não me lembro de ter recebido nenhum email do condomínio a avisar um corte no abastecimento de água. Normalmente fazem-no durante a noite, para limpeza de reservatório, avisam, mas fazem-no a horas tardias, em que a maioria do pessoal já repousa, e pela manhã a coisa está restabelecida. Não dou grande importância, fazemos cada um o seu chichi nas três sanitas de que dispomos, e arrumamos as cabeças cada um na sua almofada sem pensar  na falta de higiene oral e nas caries que daí pudessem advir.

O meu despertador é o primeiro a tocar. Lembro-me da falta de água. Abro uma torneira. Nada. Nem uma gota. Faço o chichi matinal, em cima do nocturno. Pego no telemóvel, e ligo para a minha amiga que vive no andar de cima. Olha lá, tu tens água? "tenho", responde-me ela. Por instantes penso, foda-se, esqueci-me de pagar uma conta e cortaram-me a água. mas a um domingo a meio da noite? "não, não tenho água... assustei-te, hein?", diz-me numa gargalhada. Admiro este sentido de humor matinal. Acordo os miúdos a praguejar, "vamos a acordar e a despachar que não há água!" Fazem o chichi matinal em cima do chichi nocturno.
Procuro nos armários das casas de banho uma embalagem de dodots. Não encontro, e lembro-me que o sobrinho esteve cá, e gastei a ultima a limpar-lhe um cocó mal cheiroso e potente, que lhe chegava às costas. Praguejo novamente, nem uma toalhita para o pipi.Lembro-me do elixir dentário, e ordeno aos miúdos que lavem a caramalheira com o dito. Já vestida, olho-me ao espelho. Foda-se. Aos fins de semana tenho a inteligência de não secar o cabelo, enfiar-lhe um mão cheia de espuma, e pavonear uns caracóis em estilo wild. Ou seja, nem uma escova me atrevo a usar, sob pena de sair de casa em modo juba de leão. Passo os dedos no cabelo, ajeito o enjeitável e maquilho-me, que, oh faneca, sair de casa sem uma camada de base e olhos pintados, é que eu não saio. Que se foda o banho, o sovaco camuflado a desodorizante,  o pipi mal cheiroso e o cabelo desgrenhado. Aqui vou eu, olhos pintados a preceito, dose reforçada de perfume, colar ao pescoço, pronta a enfrentar mais um dia.   

Estamos prontos a sair, e uma vizinha toca à porta. "roubaram-nos os contadores da água". Não solto um foda-se, porque eu nunca verbalizo uma foda de uma asneira, mas penso: "foda-se! roubaram-nos os contadores da água? foda-se, cum caneco!", e solto "bolas! não me diga! roubaram-nos os contadores da água?"
Saio de casa com os miúdos, o intestino a dar horas (que o meu é um relógio, e desperta logo pela manhã, o que é uma maravilha, que a barriga fica lisa como convém), e penso "foda-se, filhos da puta dos gatunos".
Volto a casa, preciso de obrar cagar , e preciso de me inteirar sobre o sucedido, e de como resolver o problema. 
O problema sanitário resolvo com uns baldes de água que fui surripiar à piscina.
A reposição dos contadores, está a ser amplamente discutida entre alguns moradores (muitos seguiram para os seus empregos, sem banho e sem conhecimento de que foram alvo de furto). Entre a direcção do condomínio aqui do sítio que lava as suas mãozinhas porque os contadores são propriedade dos moradores. Entre a empresa de segurança que lava as suas mãozinhas porque não podem estar em todas as ruas ao mesmo tempo. Entre a empresa de condomínio do prédio que lava as suas mãozinhas porque não têm culpa nenhuma. Entre o smas que ainda não nos informou convenientemente dos passos a seguir, apenas que necessitam de um auto da polícia, que já veio, e já tomou conta da ocorrência, e que já lavou daqui as suas mãozinhas. Nós os moradores, continuamos de mãozinhas por lavar, mas temos de pôr mãozinhas à obra se queremos ter água ainda hoje. O smas está a esfregar as mãozinhas pela quantidade de contadores que vão vender de uma vezada só, e os gatunos esses filhos da puta  devem ter as mãozinhas feitas num oito, que aquilo ainda é coisa para lhes ter dado algum trabalho.   


16 comentários:

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    1. A piscina não é minha. É do condomínio aqui do sítio, e a malta paga a sua quota parte para se poder banhar de vez em quando. Em calhando ainda lá vou hoje, que isto avizinha-se um dia de seca nas torneiras...

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    2. Óh!
      Se não é tua já não brinco mais aqui.
      Só me dou com boggers com piscina....

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    3. Não fujas! Volta! Não é minha, mas é como se fosse. Posso convidar quem eu quiser, e convido-te já para uma banhoca. Voltas? Voltas? (a fazer beicinho)

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    4. Vou entrar em meditação. Mai logo vejo isso. Ahummmmmm Ahummmmmm
      (mas não prometo nada)

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    5. Pronto, estive a pensar melhor. Aquilo é piscina para muitos metros quadrados. Nós somos uns vinte moradores. Logo, há ali uns metrinhos quadrados que posso considerar meus. Coisa pouca, mas dá mais que uma banheira, seguramente. Serve? Preencho os requisitos? Vá? Hum?

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  2. Roubar contadores de água?! Mas porquê? Aquilo tem cobre?

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    1. Eu também não sabia, mas acho que sim. Pouco, mas tem. Só aqui, "limparam" onze. Se estiveram o resto da noite arduamente, a "limpar" outras dezenas, é aquela velha máxima: grão a grão, enche a galinha o papo...

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  3. Dasse Ervilha, tu veste o maiô e lava-te na psicina mulher. Pipis e dentes precisam de água, mas cuidado, não os afogues. eheheh
    Já conseguiram resolver o problema? Espero que sim, viver sem água é muito mau. Beijinhos

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    1. e a quantidade de vezes que uma pessoa instintivamente abre a torneira, mesmo sabendo que não tem água? é dramático. mas já se resolveu. já a "cena" da piscina, virou um pesadelo nocturno. e num só mês, expus aqui mais uma vez, as minhas lacunas em várias modalidades físicas...

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  4. Olha que bela maneira de começar a semana... mas... contadores de água? E ninguém deu por nada? Possa...

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    1. Patrícia, os contadores estão na rua. E apesar de isto ser um local deveras silencioso, fizeram-no a uma hora em que a maioria das pessoas ainda está acordada. Eu tinha a tv ligada... Eles, pensam em tudo, e fazem-no bem!

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  5. Gostei do "foda-se". Pronto, sou do Norte, que queres? :P :P

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