quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Mentira. Pura mentira

Uma pessoa quando compra uma casa (ou a aluga ao banco - como quiserem - mas acha maravilhoso para o país, fingir que a casa é sua e pagar esse filha da puta do IMI ao estado), na maioria das vezes fá-lo porque necessita de mais espaço. Foi o meu caso, há uma parga de anos atrás.
Olha que bonita, esta sala espaçosa e airosa, uns quartos simpáticos, um terraço fantástico, uns roupeiros porreiros, muita arrumação, falta-lhe apenas uma despensa. Um mal menor. Um mal menor, quando se tem uma fantástica arrecadação com alguns dezassete metros quadrados. Um mimo. Problemas de espaço, é que não vamos ter.
Mentira. Pura mentira. Ao fim ao cabo, depressa se chega à conclusão, que a roupa está a modos que prensada dentro do roupeiro, e para vestir uma camisa em condições, é preciso (re)passa-la de manhã, à pressa, enquanto se rogam não sei quantas pragas, ao tamanho dos roupeiros, bem como à quantidade de roupa, que é tanta e parece sempre tão pouca.
Então olham-se para o dezassete metros quadrados de arrecadação, e rapidamente se traça um plano. Chama-se o carpinteiro, e depressa se monta um roupeiro que se destina à roupa da estação não vigente. Mandam-se fazer umas prateleiras até ao tecto para maximizar a arrumação, compra-se um escadote gigante (que o pé direito é bastante alto), e agora sim, temos sítio para arrumar tudo. A organização no seu pleno.
Mentira. Pura mentira. Em três tempos as prateleiras estão cheias. Cheias de tralhas que não se usam há uma mão cheia de anos, mas que não se deitam fora, porque ainda podem ser necessárias (mentira. pura mentira). E depois com os anos, às tralhas existentes acumulam-se novas tralhas, que não cabendo em casa, se levam para a arrecadação. E uma pessoa chega lá, abre a porta, e pensa onde vai encaixar mais esta prancha de bodyboard, e mais os fatos de bodyboard, e mais o calçado de verão, e mais os patins em linha. E encosta ali, no chão, nos poucos metros quadrados disponíveis. E uma pessoa pensa, tenho de vir dar um jeito nisto.
E quando se volta a precisar de lá entrar, para abrir o roupeiro e fazer a troca de roupa de verão para a de inverno (o drama a cada mudança de estação), uma pessoa descobre que as prateleiras do roupeiro que se destinavam a livros que não cabiam em casa, cederam com o peso, e os livros estão todos caídos no chão. E o acesso ao restante roupeiro está vedado pelas tralhas já colocadas ao calhas, e a cadeirinha de bebé  que estava arrumadinha no topo do roupeiro também caiu com todo aquele aparato (e uma pessoa pensa, que já não tem bebés, nem planeia mais nenhum, mas há o sobrinho, e os outros que hão-de vir,  e vá, ainda vai dar jeito).
E uma pessoa tenta empoleirar-se em cima do escadote gigante (que espaço não tem para abrir por completo por todas as tralhas espalhadas), e pensa, se me baldo daqui abaixo parto-me toda, fico aqui a ganir o resto do dia, e só me encontram já morta passados três dias. E uma pessoa desiste, vira costas, tenta esquecer o caos e pensa, tenho de vir dar um jeito nisto.
É hoje.
Caso a minha ausência seja prolongada, algures numa arrecadação, sem acesso a rede móvel, incontactável portanto, poderei estar eu, caída e submersa em tralhas que eu acho que ainda me fazem falta (mentira. pura mentira).

10 comentários:

  1. eu a ler-te e a imaginar o meu sotão, não serve em casa, vai para o sotão, não presta para agora, vai para o sotão, pode vir a ser preciso um dia, vai para o sotão...

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    1. Um sotão, acaba por ser mais difícil de arrumar, por obrigatoriamente ter de subir e descer escadas. Logo...boa sorte (um dia)! :)

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  2. Uíuí, que estou a rever-me o todas as tuas palavra! A parte da minha casa, que serva para a (des)arrumação, é o escritório, escritório esse que não se arrumava pq não tinha rigorosamente nada, portanto aos pouco fez-se umas estantes.
    Depois, tudo o que era e não era tralha de escritório, foi parar la dentro, a espero do dia São Nunca a Tarde, o dia da arrumação!!!
    Como explica e muito bem, olho... vejo caos... viro costas.... fecho a porta e quase que atiro a chave forra!

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    1. Na minha primeira casa, também tive "o escritório", quando ainda havia só uma criança, e essa assoalhada não era propriamente necessária.

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  3. ai a minha vida aqui descrita e escarrapachada, numa garagem, mais propriamente. e não é mentira.:)))

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    1. Na minha segunda casa, também acumulei na garagem. De tal ordem, que o carro já só lá cabia rés vés campo de ourique.

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  4. O sotão é minha antecâmara do lixo. Não faço a menor ideia do que lá tenho, e pelos vistos não me faz falta absolutamente nenhuma.
    Sou pessoa de juntar pouca coisa. Não serve, não gosto, vai tudo parar à Instituição do bairro. Caguei!

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    1. Ah, mas eu também me farto de dar a instituições! Roupa dos miudos, brinquedos, já voou tudo. Imagina que assim não era!

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  5. Revejo-me perfeitamente neste cenário. Mas como estou prestes a fazer mudanças, estou a começar a limpar. E tem mesmo e ser. Roupa que ninguém usa há mais de 3 anos vai embora, livros escolares, só se guarda do ano anterior, caixas de electrodomésticos vazias, lixo. Papelada tem de ser seleccionada. E na cozinha.... hmm nem sei por onde começar.
    Força! Estou solidária!

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    1. Força nisso também! Eu a cada mudança de casa (e já fiz muitas), fazia limpezas! Mas depois é um instante até voltar tudo ao mesmo! E já percebi que é um mal geral!

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