terça-feira, 12 de maio de 2015

Velhice Radical

Eu lembro-me, que quando a minha mãe se divorciou, eu pensei que ela era velha e nunca mais na vida ia arranjar ninguém. A minha mãe tinha quarenta e dois anos (42, entenda-se bem), e eu achava que ela estava velha. Na verdade, nunca arranjou ninguém, mas sei hoje que não foi por ser velha, porque eu no alto dos meus recém chegados entas, me sinto uma jovem, e longe, muito looooonge de ser velha. 

 
Hoje, vinha no elevador com as miúdas (a minha e a amiga), e uma delas deu um grito :

 
- Tu nem imaginas o que é que aconteceu hoje! - Mas foi um grito tão alto, e tão histérico (e tão próprio desta idade), que eu até saltei para trás com o coração preso na traqueia.

 
- Nós hoje descobrimos que o prof de filosofia tem uma double life! - Numa fracção de segundos imaginei mil cenários para esta descoberta. Todos aqueles maléficos, que uma mãe imagina, ainda para mais, dado o aparato do histerismo.
A medo, perguntei:

 
- O que é que descobriram?

 
Atropelavam-se as duas, completamente exaltadas, excitadas, com aquilo que tinham acabado de descobrir acerca do prof de filosofia. Em resumo foi isto : O homem faz surf. O homem faz skate. O homem vai para o alentejo surfar desde pequeno. O homem vai aos fins de semana para o skate parque, com os amigos. O homem aos fins de semana anda de ténis de uma marca xpto (que não decorei, tal o espanto com que ouvi tamanha revelação), e anda de calças balão. O homem teve em tempos o cabelo comprido. O homem faz maratonas, e até veio lesionado da última maratona em Madrid. 

 
Em suma, o homem tem uma vida, para além de ser professor. Mas não só tem uma vida, como tem uma vida a modos que radical. 

 
- Mas foi só isso que vocês descobriram? 
- Foi. Não achas o máximo?
- Sim, é de facto inacreditável - respondo ironicamente - E quantos anos é que ele tem?
- Não sei mãe, mas deve ter pouco menos do que tu... Uns trinta e sete, trinta e oito...

 
Está explicado. Afinal, as miúdas tinham razão para tanto histerismo. O homem está velho, não se percebe como é que consegue tanta proeza... 

11 comentários:

  1. Ahhh, Eu aos vinte achava que quem tinha 40 anos estava com os pés para a cova, velho e quase a morrer, à medida que os quarenta se aproximaram já começo a achar que aos 50 é que se é cota, e estou convicta que quando os 50 chegarem deve ser mesmo aos 60 que se é velho... a minha avó aos 80 anos ainda dizia, aquela rapariga da minha idade... e eu ria-me, a olhar para uma velha como ela.

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    1. O meu avô também diz isso. "vou ali jogar às cartas com os rapazes". E um dia perguntei quantos anos tinham. "são tudo rapazes da minha idade!" (ele está prestes a fazer noventa!)

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    2. Concordo com a AC. É realmente engraçado como a nossa perspectiva das idades muda quando somos nós que lá chegamos. Agora do alto dos meus 30 e tal, não me sinto velha, pelo contrário, fico é a olhar para os de 20 como se fossem crianças!

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  2. Ahahahahahahah! (acredito em cada palavrinha do relato. é tão assim...)

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  3. 38?? Que VELHOOOOOOOO! :P

    Beijocas. :)

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  4. ahahahaha tão verdade. Dantes com 30 já se tinha tantas responsabilidades... filhos, etc... e agora estou quase nos trinta e sou uma miúda que trabalha e paga casa.

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  5. Eu tb pensava isso até chegar aos 59 e achar que ainda estou aqui para o que der e vier
    Kis :>)

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  6. isto da perspetiva é lixado! :)) fica, no entanto, um louvor a esse professor que tem vida para além da escola.

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  7. eheheh tal e qual! Quando chegamos aos 40 é que vemos que a juventude é p'raí até aos 80 :)))

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  8. Muito boa essa sua postagem
    para pensarmos sobre o assunto.
    Adorei aqui e ja seguindo
    aguardo la no
    meu Espelhando.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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