sexta-feira, 14 de novembro de 2014

De coração acelerado

Tenho o miúdo apaixonado. No cimo  do seu metro e quarenta,  dos seus trinta e um kilos, a denunciarem um físico de  dez anos (no máximo), mas numa cabeça e num coração  de doze anos e meio, o miúdo está apaixonado.
Questionei a melhor amiga, de quem seria a feliz contemplada, não obtive grande informação, mas a menina feliz contemplada depressa se denunciou quando apareceu na bancada para o ver jogar.
Qual mãe sogra cusca consigo perceber que não andam na mesma escola (ufa, ufa, respiro de alívio), ainda me pergunto como se terão dado ao conhecimento dados os largos quilómetros que os separam, penso na internet, o raio da internet, percebo que têm amigos em comum (ufa, respiro de alívio). Olho de soslaio para a miúda, não quero dar nas vistas, informam-me que tem também doze anos, constato que o miúdo não é parvo de todo, porque são uns doze num corpo de dez  há que saber estar à altura, na verdadeira aceção da palavra. Consigo até achar-lhes algumas parecenças físicas, passavam bem por gémeos, melhor do que muitos gémeos que conheço. Faz-me confusão.
Olho de novo, de soslaio, penso que é esta meia leca de miúda, que me tem levado o miúdo a ficar horas fechado no quarto, agarrado ao telemóvel, que é a ela a quem dá o primeiro bom dia, ainda com um olho meio fechado, meio aberto, que é a ela a quem dá o ultimo boa noite, quando se enfia na cama com o telemóvel refundido, e eu finjo que não vejo.  
Ontem a caminho de casa, oiço a seguinte retórica:
"olha mãe, escusas de andar a tentar sacar informações da minha vida pessoal, com os meus amigos. os meus amigos, são meus amigos, e contam-me. escusas de olhar para ela, quando a vires a ver os meus jogos (julguei que tinha só olhado de soslaio) se quiseres saber alguma coisa da minha vida, pergunta-me. mas eu não tenho nada para te dizer. se eu te quiser contar alguma coisa da minha vida, eu conto-te. mas eu não tenho nada para te contar. e não penses que algum dia vou ser como a mana, que se deita contigo na cama e te conta o seu dia."
Oiço, calo, registo de estômago revirado.
Deixar o coração dele acalmar, desacelerar, e conversamos depois, penso. e enquanto isso, tenho tempo de organizar o discurso, que ainda não sei qual é.
 

8 comentários:

  1. Óóóóóóóóóóó Temos uma jovem sogra na blogosfera.
    Aguardo impaciente cenas dos próximos capítulos....

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    1. Jovem? Jovem, é favor! Eu não tenho idade para estas cenas, tás a ver? (a descer ao nível linguístico desta minha cria).
      Ainda esta semana uma senhora me deu vinte e tal anos (e não me estava a tentar vender nada - o que pode significar uma clara falta de visão, mas vá, valeu pelo dia)

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  2. Ahahah! Estou-me a rir! Mas a lembrar que tenho um rapaz em casa de 5 anos e já não acho assim tanta piada!

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    1. Pois, prepara-te. Num abrir e fechar de olhos, chegas lá! :)

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  3. O discurso surge escorreito no momento certo, vais ver.
    E há um dia em que ele, bebé de volta, deita a cabeça no teu ombro e chora um coraçãozinho partido. Não é praga nem mau olhado, been there.

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    1. Pois, eu naquele momento pensei nisso mesmo. "hás-de cá vir..." depois achei que estaria a ter um pensamento assim a modos que de... mazinha ;)

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    2. Não é maldade nenhuma :)
      Prepara os ouvidos, mas também o ombro e o colo.

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    3. Estou preparadíssima! (é que ele ultimamente ignora por completo o meu colo. por isso, preparada! oh, se estou!)

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