Ontem tinha uma reunião marcada às três da tarde em Leiria.
Saio em passo acelerado do escritório às duas. Sei que não vou chegar a tempo, mas não faz mal. A esta hora não há trânsito, vou chegar apenas um pouco atrasada. Não almocei, tenho fome, mas não faz mal. Talvez dê para parar numa área de serviço e comer uma sandes de panado, atulhada em maionese, é mesmo o que me está a apetecer.
Chego à rua, procuro o arrumador a quem deposito todos os dias fielmente a chave do meu veículo, umas moedas, para que ele me controle os sacanas senhores da emel (que enfim, eu sei que estão só a cumprir a sua função laboral) à cata de multa. O arrumador não está. Dou uns quantos sopros, bufo literalmente, já o avisei que se ausentar, não se esqueça de me deixar a chave, para que não fique apeada. O arrumador dos cem metros mais abaixo, deve ter sentido em mim uma inquietação, quiçá uma ligeira aragem provocada por tanto sopro, e vem ao meu encontro. O rapaz foi só almoçar, está na sua hora de almoço, pois claro, diz-me isto com o ar mais descontraído do mundo, eu olho para o relógio, penso que afinal vou chegar muito atrasada, e talvez seja melhor enfiar qualquer coisa já pelo bucho abaixo, e ver o panado por um canudo.
Entro no café, peço uma empada de carne picada, empurro tipo enfarta brutos, pode ser que o arrumador tenha voltado, não posso perder mais tempo. O arrumador voltou, olho para ele com ar de fuzilamento, ainda a empada a meio caminho do estômago, oh dona, já viu as horas? estou na minha hora de almoço. Pois, desconhecia o horário laboral, mas tínhamos combinado outra coisa, e estás-me a falhar como as notas de cinco mil (embora também já não hajam notas de cinco mil, e eu ainda use expressões do século passado, isto tudo à mistura, a minha arrelia, o meu toque vintage).
Entro no carro, peço ao meu colega para o conduzir, enquanto despacho um e-mail via telemóvel. Já passa das três, recebo um telefonema, vejo que é a minha reunião e nem dou tempo que me falem, estou a caminho, digo num ápice, quanto tempo vai demorar, perguntam-me. Olho para a autoestrada, vinha distraída com o e-mail, não faço ideia de quanto já percorri. Vejo a estação de serviço de aveiras, e atiro: vinte minutos. Começo a pensar na quantidade de quilómetros que separam aveiras de leiria. São muitos, tantos quanto a minha mentira. O meu colega olha-me de soslaio, e pergunta-me, prego a fundo? Digo que sim, enfio a cabeça no telemóvel, mais vale ir distraída (e pensar que não há brigadas a esta hora).
Chegamos com quarenta minutos de atraso. Peço desculpa, vamos diretos ao assunto, chegamos a um acordo, que para ser finalizado, marcamos novo encontro para hoje de manhã. Desta vez em lisboa. Deslocar-se-á ele. Diz-me entre as nove e meia/dez, vai fazer por não chegar atrasado, pergunto-lhe a rir e em tom de brincadeira mas ainda assim com uma grande lata se é alguma indireta ao meu atraso, é que apanhámos um transito infernal para sair de lisboa, ele ri também e diz que não, que percebe perfeitamente estas coisas dos engarrafamentos.
Hoje, deixa-me pendurada até ao meio dia. Desculpa-se, sabe como são estas coisas, e eu que sim, que sei bem.
Toma lá que é para aprenderes.
O que vale é que nós, pachorrentos portugueses, não levamos a mal um atrasosinho. Nem um atrasosão. :-)
ResponderEliminarEspero que tenham fechado bons negócios!
Beijinhos,
Susana