Uma pessoa começa o dia às seis e
meia da manhã, a preparar os almoços para os miúdos levarem para a escola, sai
de casa a correr, porque a mais velha tem teste de história e se chegar mais
cedo o stôr deixa começar a fazer o dito, mesmo antes do toque de entrada,
apanha um trânsito infernal até chegar ao escritório, despacha o que tem a
despachar, combina com uma amiga almoço para daí a bocado, continua a despachar
o que tem a despachar, recebe uma mensagem da amiga a avisar que está cheia de
fome, e está grávida, e por isso, não pode haver atrasos na hora combinada,
tenta despachar o que tem a despachar, antes que a amiga desmaie por culpa do
despache que não está despachado, e sai a correr sem guarda chuva, porque
não se lembrou de olhar para a janela, e ver que não chove, mas parece que está
mesmo, mesmo quase a começar a chover, mas não volta para trás, e pensa, que se
lixe o cabelo, ela não pode é desmaiar porque está grávida e eu já estou atrasada.
E uma pessoa lá vai, e em vez de ir de carro resolve ir de metro, que entre
perder tempo no trânsito, e procurar lugar, mais vale o comboio subterrâneo,
que é rápido, e mais barato. E chega à saída do metro, e olha esbaforida para
todo o lado, à procura da amiga que não está ali, mas era ali o combinado, e
olha melhor não vá ela ter desmaiado ali, num canto qualquer, e liga à amiga, e
afinal a amiga ainda está refastelada no seu local de trabalho, com voz de quem
vai tudo, menos desmaiar, e ainda se mostra espantada com a rapidez com que uma
pessoa chegou.
E uma pessoa ainda
fica à espera da amiga, que lá chega, e lá vamos, e para castigo a obrigo a
almoçar numa esplanada, porque me apetece descontrair e fumar, apesar de estar
mesmo com ar de que vai começar a chover. E almoçamos, e falamos disto e
daquilo, e vamos embora no momento em que começa a chover, e lá vai uma
pessoa a correr, esbaforida e irritada porque o cabelo está a ficar cheio de
jeitos e de manhã lhe tinha dado com a prancha. E uma pessoa chega ao
escritório, a modos que molhada, e continua a despachar o que tem a despachar,
não sem antes ligar a combinar quem pode ir buscar os miúdos à escola, porque
tem uma consulta as seis e meia da tarde, o que lhe trama o resto do dia por
completo. E uma pessoa sai do escritório para ir à consulta, e não só está a
chover, como está a chover mesmo à brava, o que complica o raio do trânsito, e
começa a praguejar, porque é bem capaz de chegar atrasada à consulta, o que
ainda lhe vai tramar mais o resto do dia. E uma pessoa chega lá, e não tem
lugar para estacionar, e dá duas voltas ao quarteirão, e quando finalmente
chega esbaforida ao consultório, apenas sete minutos atrasada,e com o cabelo em modo de bruxa, descobre que
ainda tem duas pessoas à frente. E uma pessoa senta-se resignada na sala de
espera e suspira, e espera. E enquanto espera liga para a filha para saber como
correu o teste, e dá indicações precisas do que há para jantar, caso a coisa se
atrase mesmo muito. E pensa que foi boa ideia, ter feito jantar no dia anterior
a contar com o dia de hoje, porque atrasos acontecem. Principalmente quando
chove. E pensa na velha máxima, mulher prevenida vale por duas, e uma pessoa
nesse momento sente-se a valer por duas, porque mesmo que a coisa se atrase, os
miúdos fome não passam.
E uma pessoa vai à
consulta, sai de lá esbaforida, e lembra-se que convidou a vizinha para beber
um chá a seguir ao jantar, para conhecer o Schumi, mas que não há tempo para
fazer o bolo que tinha pensado, e por isso, uma pessoa ainda entra numa pastelaria
e compra um saco de bolachas de manteiga caseiras, que custam a módica quantia
de oito euros. Uma pessoa pensa na roubalheira que aquilo é, lembra-se que está
na guerra junqueiro, e que ainda tem um longo caminho a percorrer, e que são
oito da noite, e que se lixem os oito euros, porque não há tempo para procurar
opções mais econômicas, nem tão pouco fazer o bolo. E chove a cântaros, e uma
pessoa chega a casa, enfia um bocado de empadão pela boca abaixo, antes que a
vizinha chegue, e tenta perceber como correu o dia aos miúdos, e faz uma meia
festa às boas notas que o miúdo recebeu hoje, e entretanto chega a vizinha. E
uma pessoa mostra o Schumi, tão querido e fofo, e lindo, e bebe o chá, e come
umas quantas areias que a vizinha trouxe, muito melhores que as bolachas de
manteiga, e de certeza mais baratas, e despede-se da vizinha, e deita o miúdo,
que entretanto já dorme no sofá, e ralha com a miúda que está pronta para as
biscas, e dormir não é com ela, e quando finalmente, uma pessoa se senta em frente
ao computador, vê as novidades.
E uma pessoa pensa no
quanto anda a mil, e naquilo que lhe escapa ao longo do dia...
Bolas... Todos os meus amigos facebookianos a mostrar orgulhosamente "aqui
está o meu filme do facebook. Encontra o teu", e eu não encontrei o meu.
Escapou-me esse grande acontecimento do dia. E bolas... O Pedro Teixeira e a
Claudia Vieira separados? E nem uma alminha caridosa me ligou a avisar?
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