Sou um bocado picuínhas com a
casa, a limpeza e a arrumação. Não sou doente nem maníaca com isto, mas gosto
de ter tudo no devido lugar, gosto de coisas limpas, e não consigo por exemplo
esticar-me a ver um filme, se a sala não
estiver arrumada. Quem está próximo de mim sabe disto, e não raras vezes me
chateio com quem está próximo (as minhas crias, pois claro) por ter encontrado
um par de meias sujas entre as almofadas do sofá, a toalha do banho caída junto
ao bidé, ou mesmo roupa suja misturada com roupa lavada, assim a modos que
feira de domingo, dentro do roupeiro da princesa (claramente, a maneira mais
rápida de arrumar um quarto, quando a mãe solta um grito ultimato).
Não sou no entanto, absolutamente
nada picuínhas com o meu carro. Nunca fui. Ao contrário da minha casa, o meu
carro espelha o que de mais porco e javardo pode haver. Pode parecer um
paradoxo, já que devo passar tantas horas lá dentro, quantas passo esticada no
meu sofá…
Mas ter um carro assim, dá sempre
jeito. Encontram-se as coisas mais incríveis, mas que podem a qualquer momento
dar jeito. Um chapéu de chuva, com duas ou três varetas partidas, mas que
abriga daqueles chuviscos imprevistos, um casaco enrolado e sujo que ficou
esquecido há meses, mas que serve para agasalhar no momento em que te apercebes
que o teu filho voltou a esquecer-se do dele na escola, uma garrafa de água a
cheirar a bafio, mas que num momento de secura eu bebo sem pestanejar (e sem
respirar), e muitos, muitos lenços de papel ranhosos, e secos, e acima de tudo reutilizáveis.
Para quem sofre de renite
alérgica, e para quem, como eu, se esquece sempre de trazer um macinho de
lenços novo na carteira, ter um carro assim, é um luxo. É por isso dramático,
quando ponho o carro para lavar. Que nem foi o caso de hoje (não é limpo e
lavado há mais de um ano, e digo-o sem qualquer tipo de vergonha ou constrangimento).
Mas ontem, emprestei o carro a um colega de trabalho, e quando ele voltou,
disse-me com aquele ar com que eu digo à minha filha, estive a dar um jeito no teu quarto, estive a dar um jeito no seu carro…Seguido
de, aquilo precisava de uma aspiradela .
Ora a aspiradela (coisa que ele
não fez), até dava jeito. Ter-me despejado as portas de todo o lixo que lá se
encontrava, é que foi o fim… Hoje, enquanto percorria os 20 km que separam a
minha casa do meu escritório, coisa que com trânsito faço em 45 min, deu-me um
daqueles ataques de espirros (quiçá pelo pó acumulado no habitáculo), e eis que…
nem um! Nem um lencinho sobrevivente àquela limpeza alheia à minha vontade. Foi
o desespero.
A solução foi o talão da
portagem, acabadinha de pagar. Rijo como tudo. Não limpa grande coisa. Nada aconselhável,
portanto.
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