segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Irmãos

Quando era ainda uma gaiata, a sonhar em ser adulta, sonhava ter dois filhos. Um casal. Um casalinho, primeiro o rapaz, depois a rapariga. Não os queria com muita diferença de idades, porque dizia-me a experiência que quanto maior fosse a distancia, pior se dariam. Eu tinha uma irmã quase sete anos mais nova, e se aquilo me dava cabo dos nervos! Quando adulta me tornei, já com a irmã amiga do peito, o sonho concretizou-se, ainda que invertido. Primeiro veio a rapariga, e três anos depois o rapaz. Sei que o facto de serem de sexos diferentes não ajuda, mas a pouca diferença de idades que têm, não fez que com que fossem amigos do peito. Se agora as coisas estão mais calmas, porque (felizmente) os feitios são completamente diferentes, tempos houve em o murro e o pontapé, eram o culminar de muitas discussões. Hoje, a miúda paz d'alma tem a capacidade de ignorar as diversas provocações vindas do irmão, e a "coisa" acaba por fluir apaziguadora.

No dia em que a miúda viajou, já prestes a largá-la no aeroporto (com algumas lágrimas furtivas, aquelas que eu disse que não iria publicamente deixar escapar), liguei para o miúdo e disse-lhe "despede-te lá da tua irmã, que ela está quase a embarcar". Não ouvi o que ele lhe disse, mas ouvi como ela se despediu dele "gosto muito de ti". Devolveu-me o telefone dizendo a sorrir "acho que nunca tinha dito ao mano que gosto muito dele".

Nos dias que se seguiram, a casa esteve demasiado silenciosa. O miúdo fecha-se nos seus entretens, e como habitualmente, tudo lhe é tirado a saca rolhas. Como correu o dia? Receberam algum teste? Como correu o teste? Tens fome? Já tomaste banho? Como correu o treino? Tiveste frio? Tens fome? Podes ir por favor tomar banho? O miúdo avisou-me "não queiras que eu seja igual à mana, que te conta todo o seu dia. eu não sou igual a ela". Senti a falta dela, e achei que ele também. A casa estava demasiado silenciosa. "não tens saudades da mana?" olhou-me com espanto. "Não." respondeu-me.

A miúda ia regressar. O miúdo pediu para me acompanhar ao aeroporto. Sinto-o agitado."mãe,  podes comprar pipocas para ver-mos um filme logo, todos juntos?".  Miúda regressa, cheia de histórias para contar. Na mala traz uma bola de futebol da selecção belga.  Miúdo houve todas as suas histórias, radiante com a bola nos pés. Pergunta pelo filme, e pelas pipocas. Aconchegamo-nos no sofá, ele com um balde de pipocas, nós com chocolates belgas. Ela escolhe o filme, ele reclama que já sabe que vai ser uma história de amor, uma seca, por isso é que não gosta de ver filmes connosco. Ela escolhe, ignorando os avisos dele. Um filme de amor. Ele aconchega-se, e resigna-se "só porque chegaste hoje...". Eu, de coração cheio.


12 comentários:

  1. Tão enternecedor :).
    Tenho duas miúdas com sete anos e meio de diferença. São quase sempre cão e gato. Mas também têm momentos de cumplicidade, quando são chamadas à atenção pelos pais, normalmente.

    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Esses momentos de cumplicidade, são tão bons... Quando elas forem crescidas, essa diferença fica muito ténue, e dar-se-ão lindamente. E a cumplicidade será certamente permanente! Beijinhos!

      Eliminar
  2. Isto de irmãos tem muito que se lhe diga. A diferença de idades entre mim e a minha irmã só se fez notar quando éramos mais novas, à medida que o tempo foi passando, as afinidades tornaram-se cada vez maiores e a cumplicidade também.
    No que a filhos diz respeito como só tenho um, não tenho experiências para contar!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ora pois bem, conselho do dia: Arranja outro! Rápido! ;) Um beijinho!

      Eliminar
  3. É mesmo assim! :)))))

    Beijocas, Rainha! :)

    ResponderEliminar
  4. O rapaz gosta de se armar em durão? :-)

    ResponderEliminar
  5. que bonito! gostava eu que os meus fossem assim, dois rapazes com 4 anos de diferença, mas que se dão como cão e gato. Acho que essas coisas têm a ver com as personalidades e não com as idades ou o sexo. Beijinho

    ResponderEliminar
  6. Eles adoram-se. Têm formas alternativas de o dizer e de o demonstrar :)
    Belo post.

    ResponderEliminar